O Brasil está longe de ser uma sumidade nos rankings globais que retratam cenários socioeconômicos ou de IDH. No entanto, o brasileiro ocupa a liderança por ser o povo que mais se preocupa com a própria saúde mental. É o que mostra um estudo realizado pelo Instituto Ipsos, com sede na França. Segundo os dados, 3 em cada 4 brasileiros se preocupam frequentemente com o risco de sofrer um transtorno mental. Os brasileiros lideram o ranking feito com 30 países.
Atrás do Brasil (75%), aparece a África do Sul, onde 73% da população pensa nas doenças mentais com frequência. Depois vêm a Colômbia (71%) e o Peru (68%). Na parte de baixo do ranking, estão a China (26%), a Coreia do sul (31%), a Rússia (33%) e a Alemanha (39%) que menos se preocupam com os riscos. A média global, segundo a pesquisa, é de 53%.
Depressão, síndrome do pânico e ansiedade são apenas algumas das moléstias que mantêm a população em alerta, e esse cuidado se intensificou desde o início da pandemia. “A quarentena mudou muito o comportamento e isso trouxe um impacto negativo. Houve um aumento preocupante de novos casos de transtornos mentais, por isso, o alerta é para que as pessoas realmente se preocupem mais”, explica Meire Rose Cassini, psicóloga e gestora do Serviço de Psicologia do Hospital Felício Rocho.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), só entre os meses de agosto e novembro do ano passado os novos casos cresceram 82%, e 70% dos pacientes com problemas mentais que haviam se recuperado tiveram de voltar às clínicas.
Para Meire, os principais motivos são socioeconômicos. “Muitos profissionais que lidam diretamente com pessoas que apresentam a saúde mental debilitada observam isso. São pacientes que perderam o emprego ou que viram sua renda prejudicada, ou ainda que sentiram o peso de ter o tempo de lazer reduzido. Os círculos familiares e de amizade já não são intensos como eram antes, e isso vai trazendo preocupações relacionadas às desigualdades e inseguranças econômicas e sociais, gerando grandes impactos psicológicos”.
Para ela, a constatação da pesquisa realizada pelo Ipsos é um ponto positivo, pois coloca em cena a preocupação de grande parte da população, acena para o problema de saúde pública que merece atenção e para a necessidade de medidas práticas para evitar e cuidar dos transtornos gerados. “A preocupação deve ser seguida de uma atitude proativa, como fazer check-up e exames regularmente. Não adianta pensar nas doenças mentais e manter os hábitos insalubres que potencializam as chances de ocorrência. Mais do que se preocupar, é importante combater o problema”, conclui a psicóloga do Hospital Felício Rocho.
Comentários