O estresse da vida moderna, a correria, a infinidade de informações contraditórias e de produtos novos, bem como a falta de tempo para organizar e planejar a rotina diária, impactam diretamente no que comemos e em como comemos.
Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela USP, explica que é preciso conhecer o que se comunica nos rótulos e ainda entender o que significam as palavras e frases "caça-consumidores" presentes nas embalagens dos alimentos.
Para a médica, o segredo de boas escolhas está em selecionar marcas que prezam por poucos e bons ingredientes. "Perca nem que seja 1 minutinho olhando a lista de ingredientes. E quando for abrir uma exceção e comer coisas não tão saudáveis (o que pode e deve ser feito, às vezes, sim), faça com consciência, bom senso e com o que realmente vale a pena! A meta é sempre minimizar esse uso, preferindo os alimentos simples e naturais, aqueles que vêm direto da feira e nem tem rótulo para ler", explica.
A dieta mais saudável é aquela baseada na inclusão de alimentos in natura ou minimamente processados, ou seja, que crescem na terra vão direto para o prato, como frutas, legumes, verduras, cereais, tubérculos, leguminosas, grãos, oleaginosas e sementes. "Trazer a natureza para a mesa, nos coloca em contato com os alimentos, sabores e nutrientes em sua forma mais pura e o mais perto de sua forma original possível. É a comida de verdade, caseira, que mais faz bem a você", alerta.
Os maiores vilões são os alimentos ultraprocessados, pois geram dependência alimentar, têm excesso de calorias e aumentam o risco de doenças. O primeiro problema é que chegam ao consumidor com preços inferiores ao de frutas e verduras e contêm indicações que podem confundir o público.
Fique atento a pegadinhas contidas em frases como:
1 - Produtos lights, para manter a consistência e sabor da versão original, precisam que muito açúcar ou aspartame sejam adicionados. Verifique cuidadosamente seus aditivos.
2 - Produto multigrão não é necessariamente 100% integral, mas contém mais de um tipo de grão, e um deles pode ser a farinha enriquecida com ferro e ácido fólico.
3 - Produto natural não significa que seja semelhante a algo natural, mas que, a certa altura, o fabricante trabalhou com uma fonte natural, como maçãs ou arroz.
4 - Produto orgânico diz muito pouco sobre um produto ser saudável. Por exemplo, o açúcar orgânico ainda é açúcar (que pode prejudicar o seu pâncreas). E o iogurte orgânico pode ser cheio de açúcares adicionados.
5 - Sem adição de açúcar. Alguns produtos são naturalmente ricos em açúcar. O fato de não terem adicionado açúcar não significa que sejam saudáveis. E substitutos não saudáveis do açúcar também podem ter sido adicionados.
6 - Baixa caloria. Os produtos de baixa caloria precisam ter um terço a menos de calorias do que o produto original da marca. E pode ser zero calorias, mas cheio de aditivos e adoçantes em excesso.
7 - Baixo teor de gordura. A gordura foi reduzida às custas da adição de mais açúcar. Normalmente, quando tiramos um ingrediente, substituímos por outro que pode ser até pior.
8 - Baixo teor de carboidratos. Dietas com baixo teor de carboidratos (low carb) foram associadas à melhoria da saúde. Ainda assim, os alimentos processados rotulados com baixo teor de carboidratos, geralmente ainda são junk food, processados, semelhantes aos alimentos processados com baixo teor de gordura.
9 - Feitos com grãos inteiros. Verifique se os grãos inteiros estão entre os três primeiros ingredientes; se não estiverem, a quantidade é insignificante.
10 - Fortificado ou enriquecido. Significa que nutrientes foram adicionados ao produto. Por exemplo, a vitamina D é frequentemente adicionada ao leite. No entanto, só porque algo é fortificado, não o torna saudável necessariamente.
11 - Livre de glúten. Sem glúten não significa saudável. O produto simplesmente não contém trigo, centeio ou cevada. Muitos alimentos sem glúten são altamente processados e carregados de gorduras prejudiciais à saúde. Qual o melhor alimento sem glúten? Aquele que nem rótulo tem: vegetais, arroz, feijão, frutas, quinoa…
12 - Com sabor de frutas. Muitos alimentos processados têm um nome que se refere a um sabor natural, como iogurte de morango. No entanto, o produto pode nem conter frutas - apenas produtos químicos com gosto de fruta.
13 - Cereais integrais de caixinha. Com frequência têm açúcar e corantes na composição. Prefira granolas caseiras, aveia, sementes e castanhas.
14 - Pão de supermercado. O problema é a distribuição em larga escala, que faz com que esses produtos sejam cheios de conservantes. Mesmo com versões sem glúten e/ou integrais, prefira um pãozinho mais artesanal, feito em uma padaria legal, com fermentação natural, de preferência. Hoje tem muita gente fazendo e entregando pães mais nutritivos também. Você pode congelar em fatias para facilitar.
15 - Requeijão. Pode ser uma mistura química cheia de espessantes. Se for comer lácteos, prefira comer queijo em fatias, cremosos como cottage ou ricota ou ainda manteiga mesmo.
16 - Suco de caixinha. Mesmo as versões mais naturais continuam sendo bem industrializadas, uma vez que um suco de frutas é uma bebida bem perecível. Deixe para momentos pontuais e não no dia a dia.
17 - Barrinhas de cereais. Muitas delas são cheias de corantes, adoçantes em excesso e substâncias estranhas que tem mais o objetivo de facilitar do que nutrir. Por isso, leia sempre o rótulo e faça a relação carboidratos/fibras.
Sem dúvida, é quase impossível para quem trabalha por mais de 8 horas diárias, consumir apenas produtos in natura ou minimamente processados. Porém, isso não pode ser uma desculpa para não se alimentar bem. Passo a passo, pode-se substituir produtos e buscar o que de melhor o mercado traz em termos nutricionais. Procure desembalar menos a cada dia.
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