Artigo: Afinal, chocolate tem efeitos sobre o humor?

*Por Dr. Rodrigo de Almeida Ramos

O chocolate pode, realmente, promover alívio da depressão? Os chocólatras de plantão estão sempre prontos a defender a iguaria como um potente elemento promotor de gratificação, bem-estar e tranquilidade. Há tempos, médicos e pesquisadores se debruçam sobre a tarefa de provar – ou não – seu efeito cerebral.

A resposta parece tão complexa que ainda ela é oficialmente inédita. Os poderes do chocolate no cérebro ainda não estão totalmente desvendados, mas popularmente eles são conhecidos por suas propriedades estimulantes, relaxantes e até afrodisíacas. Além disso, quem gosta muito deste tipo de alimento descreve uma sensação de fissura, definida como desejo incontrolável de consumo, quando estão há um tempo sem comê-lo.

O estudo das relações entre chocolate e humor inclui a análise das propriedades orossensoriais, ingredientes psicoativos e vias neurológicas de ativação da sensação de recompensa, que acontece quando o cérebro libera uma substância chamada dopamina, que causa bem-estar.

Uma pesquisa de revisão da literatura de 2013 sobre o consumo de chocolate e depressão identificou apenas oito estudos pequenos, dos quais cinco relataram uma melhora do estado de humor ou uma atenuação do humor negativo. Outra pesquisa, agora de 2019, concluiu que não, ingerir chocolate não tem nenhum impacto sobre sintomas depressivos.

Outro estudo, publicado na revista Depress Anxiety em 2019, verificou evidências de que o consumo frequente de chocolate amargo pode ter alguma relação com uma redução na probabilidade de aparecimento de sintomas depressivos clinicamente relevantes. Esse fato poderia ter várias explicações, como a presença de substâncias psicoativas como a feniletilamina, um neuromodulador considerado importante na origem da depressão.

O chocolate amargo seria ainda rico em flavonoide, substância que melhora o perfil inflamatório do organismo. Várias pesquisas têm demonstrado relação entre a depressão e inflamação.

O fato é que a relação benéfica do chocolate sobre a depressão ainda não pode ser solidamente comprovada. Enquanto isso, seguimos saboreando essa guloseima com moderação. E vamos cuidar da culpa. Porque, calorias, ela tem de sobra…

Fonte: Dr. Rodrigo de Almeida Ramos - Psiquiatra, doutorando e mestre em medicina pela Santa Casa de São Paulo. Diretor do Núcleo Paulista de Especialidades Médicas.