SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Desenvolvimento de competências alimentares na infância

Ensine a criança se tornar autônoma em relação a sua própria alimentação

Desenvolvimento de competências alimentares na infância Crédito: BANCO DE IMAGENS

A infância é uma fase em que a criança passa pela aquisição de diversos aprendizados, desenvolvimentos e maturação em sua totalidade psicobiofísica, social e afetiva, que vão levar a construção da sua identidade. Conforme a criança aprende, ela desenvolve competências, ou seja, a coordenação entre conhecimentos, atitudes e habilidades, para cumprir as tarefas, funções, atribuições ou o que lhe for proposto com facilidade e aptidão.

Um exemplo muito fácil é quando a criança começa a andar. Em um primeiro momento, ela começa se levantando e se apoiando, dando pequenos passos e com medo de se soltar. Com o incentivo ou auxílio dos pais e/ou cuidadores, ela passa a se sentir mais segura e confiante, pois eles lhe estendem as mãos e assim ela segue em direção a eles, se solta da parede e caminha sem apoio, cai algumas vezes, se levanta, tenta novamente e em um determinado momento, ela consegue andar sozinha.

Da mesma forma é a relação com a alimentação, em cada fase do desenvolvimento infantil ela se apresenta de maneira diferente e, embora as crianças já possuam algumas habilidades inatas, muitas outras são adquiridas conforme iniciam suas relações com os alimentos e, daí sua influência na formação dos hábitos alimentares saudáveis.

O desenvolvimento das competências alimentares na infância permite que a criança se torne autônoma em relação a sua própria alimentação, conforme crescem e de acordo com a maturidade que tem, pois, trata-se sobre o que elas conhecem, sabem e vivem sobre a alimentação e, com isso, conseguem ter uma atitude positiva e flexível com relação a mesma, mas, sob a perspectiva biopsicossocial.

Quando a criança cresce dessa forma, ela entende que a comida é funcional e saborosa, tem um acesso seguro ao alimento, consegue saber quando a comida é suficiente e aceitável para si e principalmente, sabe lidar com as novidades em relação a alimentação.

Trabalhar as competências alimentares com nossos filhos pode parecer algo difícil, pois, até nós mesmos ainda precisamos desenvolver algumas delas em nós, porém, ao desenvolver em nossos filhos temos uma ótima oportunidade de resgatar essas capacidades em nós mesmos.

 

O que podemos fazer?

Precisamos entender que a comida é essencial em nossa vida, pois ela nos mantém vivos e, por isso, fazer as refeições é importante não apenas para satisfazer as nossas necessidades básicas, mas também é um momento prazeroso.

É necessário comer quando se está com fome e até se sentir satisfeito (comer o suficiente) e estimular seus filhos, sem forçar e sem chantagear, respeitando-o quando não estiver com fome, ainda que seja o momento da alimentação.

Evitar organizar a vida em torno da alimentação, mas, administrar as diversas situações da vida para que se possa incluir as refeições, de forma que isso não seja estressante (ou seja, procurar meios de preparar e adquirir refeições gostosas e nutritivas).

O interesse pelo alimento vem por meio da oportunidade de conhecê-lo. Sendo assim, para as crianças, é importante tocar, cheirar, manusear, preparar e comer diversas vezes. Ainda que a criança se suje, deixe-a a auxiliar no preparo. Por mais que possa causar bagunça na cozinha, os pais precisam deixar as amarras de lado e dar a oportunidade para que isso aconteça. Se a criança quiser pegar o alimento com a mão, apenas deixe que pegue e depois oriente, com calma, para que ela também possa utilizar os talheres. Não se apresse em limpar tudo, conforme ela crescer, entenderá e aprenderá a se comportar nas refeições, utilizando os talheres de maneira adequada, mastigando de boca fechada e sem falar enquanto come.

Durante as orientações, os pais precisam permanecer na neutralidade, principalmente quando se tratar de algo que não gostam de comer, mas, sejam sinceros com seus filhos caso eles questionem. Explique que o fato de você não gostar não significa que ele não gostará e estimule-o a provar.

Converse com os filhos sobre as diferentes situações que envolvem a alimentação, como por exemplo, alimentação e atividade física; alimentação e manifestações culturais, etc.

Evite classificar alimentos entre bons e ruins, saudáveis e não saudáveis além de evitar termos que possam deixá-lo confuso em relação a sua própria percepção corporal e alimentar como “gordices”, “jacar”, entre outras expressões.         

Seja sempre honesto e realista com seu filho, evite julgamentos e, principalmente, comentários depreciativos no que concerne à alimentação, nutrição e forma corporal. Se precisar, busque ajuda de um nutricionista, um médico e um psicólogo.

Lembre-se que as inadequações alimentares na infância podem ser determinantes para problemas futuros, tanto de déficit quanto de sobrepeso/obesidade na adolescência e na vida adulta. Portanto, a formação dos hábitos alimentares na infância é fundamental e deve ocorrer de forma flexível e gradual, com dedicação e paciência dos pais.

 

Danielle Bonfim das Chagas Fava

Nutricionista

CRN3 26112

Graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pós-graduada em Saúde da Família pela UGF e realizou curso livre de Psicanálise Clínica- Associada à Sociedade Paulista de Cardiologia (SOCESP), participante dos cursos de atualização profissional promovidos pelo Grupo de Estudos em Nutrição e Cardiologia (GNEC) e a Associação Paulista de Nutrição (APAN) e a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN).- Profissional com 8 anos de experiência em nutrição clínica e ambulatorial, desenvolvidos em hospital, consultório, ambulatório e unidade básica de saúde, com foco em nutrição clínica, materno-infantil, geriatria/gerontologia, psicologia da alimentação e educação nutricional.- Trabalha com abordagem da Nutrição Comportamental e conceitos da Alimentação Intuitiva e Consciente (Intuitive Eating e Mindful Eating)

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