PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Cirurgia crânio maxilo facial e as reconstruções das fissuras lábio palatinas (FLP)

Podemos iniciar esse artigo chamando a atenção para um tipo comum de alteração facial presente na sociedade que é a má formação das estruturas maxilo-naso-faciais, mais conhecidas como Fissuras Labio Palatinas ou Lábio Leporino

Artigo - Cirurgia crânio maxilo facial e as reconstruções das fissuras lábio palatinas (FLP) Crédito: Divulgação

As Fissuras Lábio Palatinas (FLP) são malformações congênitas resultantes de falhas no fechamento dos processos maxilares e nasofaciais durante o desenvolvimento embrionário, levando a defeitos na morfologia dos lábios e/ou palato. Essas anomalias, que ocorrem em aproximadamente 1 em cada 700 a 1.000 nascimentos, apresentam uma ampla gama de apresentações clínicas, desde fissuras unilaterais ou bilaterais isoladas e até fissuras completas envolvendo o lábio, palato duro e palato mole.

O QUE SÃO AS FISSURAS LÁBIO PALATINAS E COMO SÃO CAUSADAS?

Podemos dizer as fendas palatinas estão presentes desde o nascimento da criança, ou seja a criança já nasce com essa alteração anatômica, que é uma condição estabelecida ainda no período embrionário de formação do feto, entre a 4ª e a 12ª semanas de gravidez.  Assim sendo, tanto o lábio como o palato são formados por estruturas que, nas primeiras semanas de vida, estão separadas, mas devem se unir conforme seu desenvolvimento para que ocorra a formação habitual e natural da face humana.

No entanto, se esta fusão não acontecer, as estruturas permanecerão separadas, dando origem portanto ao que chamamos de fissuras no lábio e/ou no palato (Fissuras Lábio Palatinas). As causas das fissuras labiopalatinas na maior parte das vezes são genéticas, ou seja, caso alguém da família tenha tido o mesmo quadro na infância, as chances são maiores de incidência desse quadro.

Nesse caso, se o individuo já possui uma predisposição genética, os fatores teratogênicos e ambientais podem acelerar ainda mais o surgimento destas deformidades. Dentre os fatores ambientais, destacamos os fatores nutricionais, com a falta de vitaminas e minerais, como também químicos consumo de drogas, fumo e álcool utilizados pela mãe do bebê durante a gestação.

DIAGNÓSTICO DAS FISSURAS LÁBIO PALATINAS (FLP)

O diagnóstico da fenda labiopalatina pode ser feito ainda na gestação, através de um exame de ultrassom morfológico, onde a confirmação do quadro, pode vir a partir da 22ª semana, por volta de 5 meses e meio, também com um exame de imagem. Após o diagnóstico pré-natal, possivelmente a gestante será encaminhada para uma equipe especializada que lhe informará como pode ser feito o tratamento neonatal e como cada profissional promoverá a reabilitação funcional e da aparência do bebê.

TIPOS DE TRATAMENTO DAS FISSURAS LÁBIO PALATINAS (FLP)

Os principais tipos de tratamento das Fissuras Lábio Palatinas costumam ser complexos e envolvem uma abordagem multidisciplinar coordenada por equipe especializada, incluindo cirurgiões maxilo faciais, cirurgiões plásticos, ortodontistas, fonoaudiólogos, geneticistas e terapeutas ocupacionais.

A intervenção terapêutica principal é cruenta, com a correção cirúrgica e reconstrutiva da região, visando corrigir a anatomia facial, restaurar a função oral adequada, melhorar a fala e a deglutição, além de otimizar a estética facial e psicossocial. A reconstrução facial em pacientes com Fissuras Labio Palatinas é frequentemente realizada em múltiplas etapas, começando com a correção primária da fissura labial entre 3 e 6 meses de idade, seguida pela técnica cirúrgica de Palatoplastia Primária (PP) entre 9 e 18 meses de idade. Podemos dizer que as técnicas cirúrgicas utilizadas dependem da extensão e da severidade da fissura, bem como das características anatômicas individuais de cada paciente.

PRINCIPAIS TÉCNICAS CIRÚRGICAS DE RECONSTRUÇÃO DA FISSURA LÁBIO PALATINA

1. Correção da Fissura Labial Inicial: A técnica de Millard, que envolve a correção em z de dupla rotação dos retalhos labiais, é amplamente utilizada para reparar fissuras labiais unilaterais e bilaterais. Em casos de fissuras completas, podem ser necessárias técnicas de alongamento de tecidos locais ou uso de enxertos.

2. Palatoplastia: A palatoplastia primária visa fechar a fissura do palato duro e reconstruir a continuidade do palato mole e do arco palatofaríngeo. As técnicas incluem a palatoplastia de V-Y, Furlow e técnica de von Langenbeck, adaptadas conforme a anatomia específica do paciente.

3. Cirurgia Ortognática: Em casos de deformidades esqueléticas associadas, como maxila hipoplásica ou mordida aberta, a correção cirúrgica dos ossos maxilares pode ser indicada para melhorar a oclusão e a estética facial.

4. Cirurgia Reconstrutiva: Para pacientes com Fissuras Labio Palatinas complexas ou deformidades faciais graves, podem ser necessários procedimentos de reconstrução microcirúrgica, incluindo transferência de tecido livre, enxertos ósseos e reconstrução tridimensional.

Além da intervenção cirúrgica, os pacientes com FLP frequentemente necessitam de técnicas de terapia fonoaudiológica para melhorar a fala e a deglutição, técnicas de ortodontia para corrigir a mordida e a posição dos dentes, e apoio psicossocial para lidar com questões emocionais relacionadas à aparência facial e ao tratamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer que a ciência atual nos mostra a necessidade técnica que os cirurgiões especializados na área, devem possuir para promoverem uma abordagem ampla e holística de seus pacientes, uma vez que são inúmeros os comprometimentos que essa alteração facial pode acarretar em diversas esferas do ser humano, tais como: emocional, comportamental, pessoal, social e física. Assim sendo, podemos mensurar que o tratamento cirúrgico das Fissuras Labio Palatinas, requer uma abordagem especializada e individualizada, visando sempre alcançar os melhores e mais promissores resultados, além de melhorar a saúde e qualidade de vida dos pacientes afetados por essa condição complexa.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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