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Artigo - Doença dengue versus prática de exercícios físicos

A dengue, uma arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, representa um desafio significativo para a saúde pública em regiões endêmicas em todo o mundo.

Artigo - Doença dengue versus prática de exercícios físicos Crédito: Banco de imagens

Podemos classificar o vírus da dengue como pertencente ao gênero Flavivirus e à família Flaviviridae, cuja manifestação clínica, ocorre como uma doença febril aguda com uma variedade de apresentações sintomatológicas, desde formas assintomáticas até manifestações graves, como a dengue hemorrágica e a síndrome de choque da dengue. A prática de exercícios físicos em indivíduos afetados pela dengue é um tema de interesse crescente na comunidade médica, dada a necessidade de compreender os possíveis impactos na evolução da doença.

Fisiopatologia da doença dengue

A fisiopatologia da doença dengue envolve uma interação complexa entre o vírus da dengue, o hospedeiro humano e o vetor (mosquito Aedes aegypti). Após a inoculação do vírus através da picada do mosquito, ocorre uma fase de replicação viral local na pele e nos linfonodos regionais, seguida de disseminação sistêmica do vírus através do sistema linfático e da corrente sanguínea.

O vírus da dengue infecta preferencialmente células do sistema imunológico, como os macrófagos, causando uma resposta imunológica desregulada e um evento denominado como “tempestade de citocinas”.

Essa resposta inflamatória exacerbada pode levar a uma série de alterações fisiopatológicas, incluindo aumento da permeabilidade vascular, ativação plaquetária, coagulopatia, disfunção endotelial e extravasamento capilar, características distintivas da dengue grave que acomete alguns pacientes. Podemos dizer que a liberação de mediadores inflamatórios, como TNF-α, IL-6, IL-8 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), desempenham um papel central na patogênese nos quadros de dengue grave, contribuindo para a ativação plaquetária, lesão endotelial e disfunção de múltiplos órgãos.

Além disso, a resposta imunológica desregulada durante a infecção por dengue pode desencadear uma série de alterações hematológicas, incluindo trombocitopenia, leucopenia, linfopenia e elevação da concentração de hematúria (sangue na urina) e creatinina. A trombocitopenia, em particular, é uma característica proeminente da dengue grave e está associada a um risco aumentado de sangramento e complicações hemorrágicas, por esse motivo atribuímos alguns casos como dengue hemorrágica.

Sinais e sintomas da doença dengue

Podemos dizer que a doença dengue apresenta uma ampla gama de sinais e sintomas que variam desde formas assintomáticas ou leves até manifestações graves que podem levar à morte. Os sintomas mais comuns incluem febre súbita, dor de cabeça intensa (cefaleia), dor retro-orbital (dor na parte interna dos olhos), dores musculares (mialgia), dores articulares (artralgia), náuseas, vômitos, fadiga (cansaço) e erupção cutânea.

A dengue clássica é caracterizada por um curso febril agudo com recuperação espontânea em 2-7 dias. No entanto, em alguns casos, a doença pode evoluir para formas graves, como dengue hemorrágica (DH) ou síndrome de Choque da Dengue (SCD), que são caracterizadas por hemorragia grave, choque circulatório e disfunção de múltiplos órgãos.

Doença dengue e prática de exercícios físicos

Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos entre a doença dengue e a prática de exercícios físicos envolvem uma interação complexa entre o sistema imunológico do hospedeiro, a replicação viral e as respostas inflamatórias adjacentes.

Podemos dizer que durante a fase aguda da infecção por dengue, ocorre uma resposta imunológica caracterizada por uma produção desregulada de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucina 6 (IL-6) e fator de crescimento transformador beta (TGF-β), resultando em uma tempestade de citocinas e uma considerável resposta inflamatória sistêmica. Essa cascata inflamatória pode levar à permeabilidade vascular aumentada, plaquetopenia, coagulopatia e disfunção endotelial, características da patogênese da dengue grave presente em determinados pacientes.

A prática de exercícios físicos durante a fase aguda da infecção por dengue pode potencialmente exacerbar a resposta inflamatória e o estresse fisiológico do organismo humano, aumentando o risco de complicações graves, pois o exercício físico intenso pode promover a liberação de catecolaminas, como a adrenalina e a noradrenalina, que têm efeitos vasoconstritores e podem agravar a hipoperfusão tecidual e o choque circulatório em pacientes com quadros de dengue grave.

Além disso, o aumento da temperatura corporal (termogênese) durante o exercício pode comprometer ainda mais a função endotelial e a integridade vascular, predispondo ao extravasamento capilar e à hemorragia.

Embora a recomendação geral seja de evitar exercícios físicos vigorosos durante a fase aguda da infecção por dengue, uma abordagem individualizada é sempre fundamental, levando em consideração o estado clínico do paciente, a presença de complicações e a orientação médica adequada. Em pacientes com formas leves de dengue, pode ser possível realizar atividades físicas de baixo impacto, como caminhadas leves, desde que haja monitoramento cuidadoso dos sinais vitais e da resposta clínica dos pacientes.

No entanto, em casos de dúvida sobre o quadro do paciente ou em quadros de dengue grave e complicações hemorrágicas, a restrição absoluta de exercícios físicos é recomendada para evitar o agravamento do quadro clínico e complicações adicionais. Dessa forma, recomendamos sempre uma abordagem individualizada e uma cuidadosa avaliação clínica para determinar o manejo adequado em cada caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer que a dengue é uma doença viral complexa com uma variedade de manifestações clínicas e fisiopatológicas, sendo que a compreensão dos sinais e sintomas, bem como dos mecanismos subjacentes à doença, é essencial para o diagnóstico precoce, manejo adequado e prevenção de complicações graves no quadro da doença.

Também é de fundamental importância, que os profissionais estejam cientes dos potenciais riscos e complicações associados à prática de exercícios físicos durante a infecção por dengue e forneçam orientações claras e individualizadas aos pacientes, visando garantir a segurança e o bem-estar durante o curso da doença.

O reconhecimento dos sinais de alerta de dengue grave, como dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramento de mucosas e sinais de choque, é crucial para identificar pacientes em risco de evolução desfavorável e garantir intervenção médica imediata.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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