PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Fisiologia do ciclo menstrual feminino

COMO OCORREM AS REAÇÕES HORMONAIS QUE DETERMINAM O CICLO MENSTRUAL NA MULHER??

Artigo - Fisiologia do ciclo menstrual feminino Crédito: Banco de imagens

Podemos dizer que o artigo de hoje, pode ter seu conteúdo resumido em uma única frase, que seria:

“O corpo humano é uma máquina fantástica e complexa, onde internamente tudo se conecta da mais perfeita forma para que haja um equilíbrio e assim a manutenção da vida humana.”

Partindo dessa frase acima, iniciamos o artigo de hoje, explorando um pouco sobre a Fisiologia do Sistema Endócrino Feminino (Endocrinologia Feminina), aonde a presença de palavras como pulsos, picos, declínios, supressão, estímulo, inibição, se repetem a todo o momento para explicar como a fantástica e oscilatória produção hormonal se sucede no organismo das mulheres, desde o período da menarca (primeira menstruação), até a etapa de pós-menopausa. Assim sendo, é sabido que o sistema reprodutor feminino ou ovariano atua contribuindo na produção de gametas e hormônios reprodutivos, assim como o sistema reprodutor masculino; no entanto, ele também tem a tarefa adicional de apoiar o feto em desenvolvimento e entregá-lo ao mundo exterior. Ao contrário do masculino, o sistema reprodutor feminino está localizado principalmente dentro da cavidade pélvica, pois os ovários são as gônadas femininas produtoras de gametas chamados de oócitos, vamos abordar questões anatômicas abaixo.

ANATOMIA DO APARELHO GENITAL FEMININO (PRINCIPAIS ESTRUTURAS)

O Aparelho Genital feminino é dividido em Orgãos Internos e Orgãos Externos, sendo que os órgãos internos do sistema reprodutor feminino são:

- Ovários, tubas uterinas, útero e vagina.

Já órgãos externos como a vulva, também conhecida como genitália externa é composta por:

-Clitóris, pequenos lábios, grandes lábios e vestíbulo.

Podemos afirmar que todos esses órgãos acima presentes no aparelho genital feminino tem a sua importante e essencial função, no entanto, vamos destacar nesse artigo os Ovários, uma vez que os mesmos são os principais produtores hormonais do ciclo feminino.

OVÁRIOS

Os ovários são as gônadas femininas ovais que se encontram emparelhados,sendo que medem cerca de 2 a 3 cm de comprimento, comparado com o tamanho de uma amêndoa. Os ovários estão localizados dentro da cavidade pélvica e são sustentados pelo mesovário, uma extensão do peritônio que conecta os ovários ao ligamento largo. Estendendo-se do próprio mesovário está o ligamento suspensor que contém os vasos sanguíneos e linfáticos ovarianos. Podemos dizer aqui que o próprio ovário está ligado ao útero por meio do ligamento ovariano. O ovário compreende uma cobertura externa do epitélio cuboidal chamada epitélio da superfície do ovário, que é superficial a uma densa cobertura de tecido conjuntivo chamada túnica albugínea. Abaixo da túnica albugínea está o córtex, ou porção externa, do órgão. O córtex é composto por uma estrutura de tecido chamada estroma ovariano que forma a maior parte do ovário adulto. Os oócitos (células reprodutoras) se desenvolvem dentro da camada externa desse estroma, sendo cada um cercado por células de suporte que formam o que chamamos de folículo. Lembrando que abaixo do córtex está a medula interna do ovário, o local dos vasos sanguíneos, dos vasos linfáticos e dos nervos do ovário.

FISIOLOGIA DO CICLO HORMONAL FEMININO

O ciclo hormonal feminino é um processo fisiológico que ocorre durante a idade reprodutiva da mulher e resulta na extrusão de um óvulo e no preparo do endométrio para a implantação embrionária. O comportamento do ciclo é determinado pela sincronia de hormônios, com ação autócrina e parácrina e também de neurotransmissores, que atuam como inibidores ou estimuladores dessa secreção hormonal. Qualquer alteração no metabolismo, na secreção ou excreção dos hormônios envolvidos ou de seus reguladores interfere na regularidade, volume e duração do ciclo. O ciclo ovariano é um conjunto de mudanças previsíveis nos oócitos e nos folículos ovarianos durante os anos reprodutivos da mulher, sendo que um ciclo dura aproximadamente 28 dias, podendo ser correlacionado com o ciclo menstrual, porém ambos são distintos. O ciclo ovariano inclui dois processos inter-relacionados: oogênese (produção de gametas) e foliculogênese (crescimento e desenvolvimento dos folículos ovarianos).

OOGÊNESE

A gametogênese em mulheres é chamada de oogênese, sendo um processo que começa com as células-tronco ovarianas, ou oogonia. As oogônias são formadas durante o desenvolvimento fetal e se dividem por mitoses, assim como as espermatogônias nos testículos. Ao contrário da espermatogonia, no entanto, a oogonia forma oócitos primários no ovário fetal antes do nascimento. Desse modo, o início da ovulação que é a liberação de um oócito do ovário, marca a transição da puberdade para a maturidade reprodutiva. A partir daí, durante os anos reprodutivos, a ovulação ocorre aproximadamente uma vez a cada 28 dias, sendo que pouco antes da ovulação, um pulso de Hormônio Luteinizante (LH), desencadeia a retomada da Meiose em um oócito primário, estimulando a ovulação.

Podemos dizer que diversos são os hormônios envolvidos no processo, dentre eles o Hormônio Folículo Estimulante (FSH) que tem como principal função, induzir o crescimento folicular nos ovários, pois durante cada ciclo menstrual de 3 a 30 folículos são recrutados para crescimento acelerado. Entretanto, sabemos que em cada ciclo, apenas um folículo alcança a ovulação (chamamos de folículo dominante), no qual libera o oócito na ovulação e promove a atresia dos outros folículos recrutados.

FISIOLOGIA DO CICLO HORMONAL FEMININO

A menstruação é a perda vaginal periódica de sangue e de endométrio descolado (coletivamente chamado de menstruação ou período menstrual) do útero pela vagina. É causada pelo rápido declínio na produção progesterona e estrogênio pelo ovário que ocorre a cada ciclo na ausência de gestação, sendo que a menstruação ocorre ao longo da vida reprodutiva da mulher. Podemos definir como menopausa a ausência de secreção menstrual de 1 ano após a última menstruação. A duração normal da menstruação é 4,5 a 8 dias, sendo que a perda sanguínea por ciclo é em média de 30 mL (variação de 5 a 80 mL), sendo geralmente maior no 2º dia. Como a maior parte das mulheres não medem o volume menstrual, determina-se se a menstruação é excessivamente intensa ou leve de acordo com a impressão da paciente e com a quantidade estimada de absorventes ou tampões usados, no entanto, o sangue menstrual geralmente não se coagula (a menos que o sangramento seja muito intenso), provavelmente em razão da fibrinolisina e outros fatores que inibem a coagulação. A extensão de um ciclo menstrual médio é 28 dias (intervalo normal, 24 a 38 dias), em geral, a variação é máxima e os intervalos intermenstruais são mais longos logo após a menarca e logo antes da menopausa, quando a ovulação ocorre com menor frequência.

Assim sendo, de acordo com os padrões endocrinológicos do ciclo hormonal feminino, o ciclo menstrual pode ser dividido nas seguintes fases:

  • Folicular (pré-ovulatório)
  • Ovulatória
  • Luteal (Ocorre na pós-ovulação com al terações cíclicas idealizadas nas gonadotropinas da hipófise, estradiol (E2), progesterona (P) e endométrio uterino durante o ciclo menstrual normal )

O endométrio também cicla em fases:

  • Menstrual
  • Proliferativa
  • Secretório

CICLO HORMONAL FEMININO (CICLO OVARIANO)

FASE FOLICULAR

A duração dessa fase varia mais que as outras.

No fase folicular precoce (primeira metade da fase folicular), o evento primário é:

  • Crescimento de folículos recrutados

Nesse ponto, os gonadótropos na hipófise anterior contêm pouco LH e FSH e a produção de estrogênio e progesterona é baixa. Como resultado, a secreção de Hormônio Folículo Estimulante (FSH) aumenta ligeiramente, estimulando o crescimento dos folículos recrutados. Os níveis circulantes de LH sobem lentamente, começando 1 a 2 dias após o aumento no FSH. Desse modo, os folículos ovarianos recrutados logo aumentam a produção de estradiol; o estradiol estimula a síntese de LH e FSH, mas inibem sua secreção. Durante a fase folicular tardia (2ª metade da fase folicular), os folículos selecionados para a ovulação amadurecem e acumulam células granulares secretoras de hormônios; seus antros aumentam com o líquido folicular, atingindo 18 a 20 mm antes da ovulação. Os níveis de FSH diminuem; os níveis de LH são menos afetados, assim os níveis de FSH e LH divergem em parte, pois o estradiol inibe a secreção de FSH mais do que a de LH. Além disso, os folículos em desenvolvimento produzem o hormônio inibina, que inibe a secreção de FSH, mas não de LH, já outros fatores contribuintes podem incluir meia-vida diferentes (20 a 30 minutos para o LH; 2 a 3 horas para FSH) e fatores desconhecidos. Os níveis de estrogênio, em particular de estradiol aumentam de modo exponencial.

FASE OVULATÓRIA

Nessa fase, ocorre a Ovulação (liberação do óvulo).

Os níveis de Estradiol atingem o pico assim que se inicia a fase Ovulatória, onde os níveis de progesterona também começam a aumentar. O LH armazenado é liberado em quantidades maciças (pico de LH), geralmente em 36 a 48 horas, com aumentos menores de FSH. O pico de LH ocorre, pois nesse momento os altos níveis de estradiol desencadeiam a secreção de LH pelos gonadótropos (feedback positivo), sendo que esse pico de LH também é estimulado pelo GnRH e pela progesterona. Durante o pico de LH, os níveis de estradiol diminuem, mas os níveis de progesterona continuam a aumentar. O pico de LH também estimula enzimas que iniciam a ruptura da parede do folículo e a liberação do óvulo, agora maduro, dentro de 16 a 32 horas. O pico de LH também desencadeia o complemento da primeira divisão meiótica do Oócito em cerca de 36 horas.

FASE LÚTEA

O folículo dominante se transforma em um corpo lúteo depois de liberar o óvulo. A duração dessa fase é a mais constante, com uma média de 14 dias, depois da qual, na ausência de gestação, o corpo lúteo se degenera. O corpo lúteo secreta primariamente progesterona em quantidades aumentadas, atingindo um máximo de cerca de 25 mg/dia, 6 a 8 dias após a ovulação. A progesterona estimula o desenvolvimento do endométrio secretório, necessário para a implantação embrionária, sendo a progesterona termogênica, a temperatura corporal basal aumenta em 0,5° C durante essa fase.

Em razão dos altos níveis circulantes de estradiol, progesterona e inibina durante a maior parte da fase lútea, os níveis de LH e FSH diminuem. Quando a gestação não ocorre, os níveis dos hormônios Estradiol e Progesterona diminuem no final dessa fase, e o corpo lúteo se degenera em corpo albicans. Se ocorrer implantação, o corpo lúteo não se degenera, mas permanece funcional no início da gestação, continuando a produzir progesterona, suportado pela Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG) que é produzida pelo embrião em desenvolvimento.

CICLO ENDOMETRIAL UTERINO

O endométrio, constituído por glândulas e estroma, possui uma camada basal, uma camada esponjosa intermediária e uma camada superficial de células epiteliais compactas, as quais revestem a cavidade uterina. Juntas, as camadas esponjosa e epitelial formam a camada funcional, uma camada transitória que se desloca durante a menstruação.

Durante o ciclo menstrual, o endométrio cicla em suas próprias fases:

  • Menstrual
  • Proliferativa
  • Secretória

Após a menstruação, o endométrio é tipicamente fino com estroma denso e glândulas tubulares estreitas e retas revestidas com pouco epitélio colunar. Quando os níveis de Estradiol aumentam, a camada basal intacta regenera o endométrio a sua espessura máxima na fase folicular tardia (fase proliferativa do Ciclo Endometrial). A mucosa se espessa e as glândulas tubulares aumentam e seenrolam, tornando-se tortuosas.

A ovulação ocorre no início da fase secretora do ciclo endometrial. Durante a fase lútea ovariana, a progesterona estimula a dilatação das glândulas endometriais, que se enchem de glicogênio e se tornam secretórias, ao passo que a vascularização do estroma aumenta. Conforme os níveis de estradiol e progesterona diminuem mais tarde na fase lútea/secretória, o estroma se torna edematoso e o endométrio e seus vasos sanguíneos entram em necrose, provocando sangramento e o fluxo menstrual, sendo que a atividade fibrinolítica do endométrio diminui a formação de coágulos sanguíneos no sangue menstrual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer que alterações hormonais cíclicas regem a fisiologia, metabolismo e comportamento feminino. Assim sendo, o ciclo hormonal menstrual é o intervalo de tempo entre o primeiro dia da menstruação e o último dia antes da menstruação seguinte. O ciclo menstrual dura em média 28 dias e é dividido em 3 fases, de acordo com as alterações hormonais que ocorrem no corpo da mulher. A menstruação representa os

anos férteis da vida da mulher, que se iniciam na adolescência e duram até à menopausa.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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