PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Nutrologia Molecular: Bebidas energéticas - Bioquímica e mecanismos de ação no metabolismo humano

Não é de hoje que sabemos da relevância das bebidas energéticas para consumo humano em diversos os segmentos, tais como no meio esportivo, acadêmico, social, recreativo, dentre outros.

Artigo - Nutrologia Molecular: Bebidas energéticas - Bioquímica e mecanismos de ação no metabolismo humano Crédito: Banco de imagens

O consumo de tais bebidas tem maior prevalência na população mais jovem por conta de sua ação estimulante para combate à sonolência ou na aquisição de foco e energia para prática esportiva, estudos ou no dia a dia de modo geral.

Podemos dizer que a composição básica dos energéticos disponíveis no mercado, de maneira geral, são constituídos de substâncias nutrientes como carboidratos, vitaminas, L- taurina, cafeína, gluconorolactona, inositol, citrato de sódio e gás carbônico, sendo que alguns podem vir adoçados com maltodextrina ou adoçantes sintéticos.

Algumas substâncias fitoterápicas (extratos de plantas) também podem compor as fórmulas das bebidas energéticas, como ginkgo biloba, guaraná e ginseng, no entanto, o que observamos frequentemente é a presença de dois tipos de carboidratos: a sacarose e a dextrose.

FORMULAÇÃO E COMPOSIÇÃO DAS BEBIDAS ENERGÉTICAS

As bebidas energéticas podem conter elevados valores de Cafeína (até 141 mg), sendo o conteúdo médio de cerca de 80 mg, valores que podem ultrapassar o conteúdo de cafeína presente em uma xícara de café.

Verificamos também na composição das bebidas um aminoácido chamado L-Taurina, a Glucuronolactona, além de substâncias como amendoins, guaraná, ginseng, além de outros compostos que podem aumentar a quantidade de Cafeína, podendo chegar em torno de 300 mg.

Já em termos calóricos, podemos dizer que uma lata de bebida energética de 240 mL apresentará uma quantidade em torno de 21g a 60g de glicose, o que poderá precipitar a ocorrência de doenças como diabetes tipo 2 e obesidade. A frutose também presente nos energéticos possui efeitos no aumento do peso corporal e na resistência à insulina.

A dextrose é um carboidrato simples de rápida absorção intestinal, responsável em prover a energia inicial ao organismo, por outro lado, a sacarose não é um carboidrato simples, pois é constituída por dois tipos diferentes tipos de carboidrato, a glicose e a frutose. Nesse último caso, a digestão não é tão rápida quanto a primeira, resultando em dois tempos absortivos, um imediato e outro em um tempo posterior. A presença desses dois tempos de absorção faz com que a utilização do carboidrato não ocorra de uma vez e sim de forma gradual, o que resulta na utilização do carboidrato por um tempo maior.

MECANISMOS DE AÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS CONTIDAS NOS ENERGÉTICOS

A) Cafeína

A cafeína (3,7 dihidro - 1,3,7 trimetil - 1H – purina -2,6 diona) é uma metilxantina da família química dos alcaloides. Sendo derivada da purina, a cafeína possui três grupos de metil, tendo como fórmula química C₈H₁₀N₄0₂. Após a ingestão, a Cafeína demora entre 30 a 45 minutos a ser absorvida no trato gastrointestinal, atingindo-se a concentração máxima ao fim de uma hora e meia, sendo que posterior a distribuição, a cafeína é metabolizada pela enzima CPYP1A2, no fígado, em paraxantina, por via da N-3-desmetilação, sendo posteriormente eliminada pela urina. A cafeína atua como estimulante no sistema nervoso central, o que acaba resultando no aumento da atenção pela liberação de adrenalina e de cálcio, que auxiliam nas contrações musculares mais efetivas.

B) L- Taurina

A Taurina (ácido 2-aminoetanossulfónico), é o aminoácido mais abundante no tecido animal, sendo produzido pelo metabolismo da metionina e cisteína. O seu peso molecular é 125,15 e a fórmula molecular C₂H₇NO₃S.

A Taurina contém na sua estrutura enxofre, o qual está associado a propriedades antioxidantes, sendo encontrados elevados níveis do aminoácido em órgãos e estruturas como o cérebro em desenvolvimento, hipocampo, cerebelo e hipotálamo. Servindo de suporte à proliferação de células progenitoras neurais e à formação de sinapses em regiões cerebrais necessárias para a memória de longo prazo (retrógrada), sendo que a taurina estimula ainda potenciais de ação em neurónios GABA, sendo assim este aminoácido associado a um papel neuroprotetor.

Desse modo, podemos dizer que a L- Tauirna, tem a função de aumentar a resistência física e, também, de amenizar as conseqüências causadas pela depressão pós-álcool.

B) Gluconorolactona

A glucuronolactona (D-glucurono-6,3-lactona) é um metabolito natural humano, formado a partir do ácido D-glucorónico. O seu peso molecular é 176,12 e a sua fórmula molecular C₆H₈O₆. Embora nem todas as bebidas energéticas contenham glucuronolactona, a concentração encontrada nas bebidas onde está presente varia entre 2000 - 2400 mg/L. Dados na literatura indicam que a ingestão de pequenas quantidades de glucuronolactona não apresenta problemas associados, no entanto a ingestão de glucuronolactona em bebidas energéticas pode ser bastante superior à dose usual.

A glucoronolactona é uma substância à base de glicose que ajuda na eliminação de toxinas exógenas e endógenas e que, em uma atividade física, atua como um desintoxicante, aumentando o desempenho físico e diminuindo a fadiga.

PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS DAS BEBIDAS ENERGÉTICAS

Um extenso número de estudos revelou uma associação entre o consumo de bebidas energéticas e hipertensão arterial aguda, estando este efeito associado a alterações hemodinâmicas provocadas pelo consumo de cafeína.

O consumo de cafeína pode estar relacionado com um aumento dos níveis séricos de renina, catecolaminas e dopamina, que provocam alterações na pressão arterial e frequência cardíaca, podendo também estar associada a um aumento dos níveis séricos de glicose (hiperglicemia). A cafeína é antagonista dos receptores da adenosina, tendo este nucleosídeo endógeno a capacidade de condicionar alguns dos efeitos do sistema nervoso central e periférico.

A estrutura semelhante da cafeína em relação a adenosina, faz com que a mesma aja como antagonista competitivo dos receptores da adenosina (A1 e A2A), possuindo assim a capacidade de estimular o sistema nervoso central e gerar vasoconstrição arterial. A ingestão de cafeína resulta ainda na liberação de noradreanalina, dopamina e serotonina no cérebro, aumentando a circulação de catecolaminas, de acordo com os efeitos inibitórios da adenosina.

Por esta razão, é necessário verificar possíveis alterações na freqüência cardíaca e pressão arterial dos pacientes usuários crônicos das bebidas energéticas.

Outros estudos demonstraram uma provável associação entre o consumo de bebidas energéticas e um aumento médio da glicose sérica superior a 40%, o que pode resultar em quadros de resistência periférica a insulina e diabetes tipo 2 com efeitos deletérios para a saúde dos pacientes consumidores da bebida.

PRINCIPAIS DIFERENCAS ENTRE AS BEBIDAS HIPERTÔNICAS E ISOTÔNICAS

As bebidas energéticas hipertônicas têm o objetivo de estimular o metabolismo humano, ativando o estado de alerta do organismo, reduzindo o estado de cansaço e sono durante algum tempo, possuindo semelhança aos suplementos pré-treinos, já que ambos podem conter as mesmas substancias em sua formulação.

Já as bebidas energéticas isotônicas têm como objetivo repor líquidos, carboidratos e eletrólitos, pois a reposição desses nutrientes é essencial na prática esportiva, principalmente em atividades de endurance e de predomínio aeróbico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer que a composição básica das bebidas energéticas disponíveis no mercado, de maneira geral, são constituídos de substâncias nutrientes como carboidratos, vitaminas, aminoácidos como a L- taurina, cafeína, gluconorolactona, inositol, citrato de sódio e gás carbônico, sendo que alguns podem vir adoçados com maltodextrina ou adoçantes sintéticos.

Algumas substâncias fitoterápicas (extratos de plantas) também podem compor as fórmulas das bebidas energéticas, como ginkgo biloba, guaraná e ginseng.

Dentre os efeitos bioquímicos das bebidas energéticas no organismo humano, destacamos os efeitos neuroestimulantes ao SNC, com a produção do estado de alerta, foco e aceleração metabólica.

Por outro lado, poderão ocorrer efeitos colaterais aos pacientes que fazem uso crônico das bebidas energéticas, onde é observado uma provável associação entre o consumo de bebidas energéticas e hipertensão arterial aguda, estando este efeito associado a alterações hemodinâmicas provocadas pelo consumo de cafeína.

Ainda pode ser observado como eventual efeito deletério, o estado hiperglicêmico induzido pelas bebidas, devido a alta taxa de carboidratos de elevado índice glicêmico presentes, podendo o seu uso crônico, acarretar em doenças crônico degenerativas como o Diabetes Tipo2.

Para encerrar esse artigo, podemos mencionar que a literatura científica vem crescendo em trabalhos voltados para elucidar tanto os benefícios das bebidas energéticas e de seus componentes, como seus efeitos colaterais. Assim sendo, se torna de grande valia que os profissionais da área da saúde envolvidos, estejam sempre atualizados aos principais estudos sobre a temática, afim de que possam orientar da melhor forma os seus pacientes ao consumo de tais bebibas.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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