PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Alterações anatomicas e funcionais do músculo cardíaco em decorrência da prática esportiva

Iniciamos esse artigo, já mencionando os inúmeros benefícios que a prática de exercícios físicos promove no organismo humano, sendo elas de ordem metabólica, física, comportamental e emocional.

Artigo - Alterações anatomicas e funcionais do músculo cardíaco em decorrência da prática esportiva Crédito: Banco de imagens

Desse modo, podemos dizer que tanto a prática de exercícios aeróbicos como os anaeróbicos praticados de forma freqüente e intensa, podem gerar alterações miocárdicas específicas e visíveis num exame de ecografia cardíaca, conhecida como ecocardiograma. 

Fisiológicamente falando, os sistemas mais solicitados durante a prática esportiva é o Sistema Cardiovascular atuando em conjunto com o sistema Respiratório e Sistema Muscular, porém sabemos que o sistema cardiovascular é o carro chefe de uma atividade física, pois tem o papel fundamental de distribuir nutrientes para as células musculares agindo em parceria com o sistema respiratório e tendo o coração como bomba propulsora de todo o volume sanguíneo. Sendo assim, as alterações ventrículo-cardíacas decorrentes do tipo de atividade física realizada é um assunto de extrema relevância no meio médico-esportivo, pois a correta avaliação clinica poderá revelar a importante diferença entre uma alteração miocárdica fisiológica (proveniente do exercício físico), para uma alteração patológica (relacionada a doenças cardiogênicas).

A remodelação cardíaca é inicialmente definida como um conjunto de adaptações fisiológicas ou patológicas. O coração se adapta em tamanho, forma e função às alterações hemodinâmicas e os mecanismos de adaptação envolvem aspectos mecânicos, bioquímicos e moleculares.

HIPERTROFIA FISIOLÓGICA

Quando ocorre aumento das solicitações hemodinâmicas nos períodos de exercício, basicamente ocorrem alongamento e tensão nas células cardíacas, que respondem com hipertrofia, caracterizada por aumento das miofibrilas nos cardiomiócitos.

HIPERTROFIA PATOLÓGICA

Quando ocorre aumento crônico das solicitações hemodinâmicas, como no caso de doença hipertensiva, valvopatias, comunicações intra-cavitárias e também nas doenças genéticas, as alterações hipertróficas apresentadas são diferentes. As diferenças básicas estão na ocorrência de fibrose intersticial e necrose de cardiomiócitos.

Nas doenças em que ocorre sobrecarga de pressão como por exemplo, a estenose aórtica ou a hipertensão arterial sistêmica, ocorre hipertrofia das paredes do miocárdio com redução das câmaras cardíacas, o que recebe o nome de “hipertrofia concêntrica do miocárdio”.

Os novos sarcômeros são depositados em paralelo com relação aos pré-existentes, aumentando a força de contração dos cardiomiócitos. Com isso, a espessura do miocárdio ultrapassa com frequência o limite da normalidade.

Assim sendo, com a evolução do processo, costuma ocorrer diminuição da espessura das paredes cardíacas e diminuição da força de contração, levando á chamada cardiomiopatia dilatada.

A insuficiência cardíaca pode ocorrer nas duas fases das adaptações, assim como o óbito, que pode ocorrer por infarto ou parada cardíaca (arritmia grave). Por outro lado, nas doenças em que ocorre sobrecarga de volume, como por exemplo na insuficiência mitral, a hipertrofia do miocárdio é acompanhada de aumento das câmaras cardíacas, caracterizando a “hipertrofia excêntrica do miocárdio”.

Nesse evento, os novos sarcômeros são depositados em série com relação aos pré-existentes, levando ao alongamento dos cardiomiócitos. Na evolução desse quadro, também ocorrem insuficiência cardíaca, infarto ou arritmia.

ATLETAS DE RESISTÊNCIA (Praticantes de Atividades Aeróbicas)

Comumente, os atletas de ciclismo, corrida e triathlon, por exemplo, são submetidos a longos períodos de sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo, caracterizada por aumentos importantes de frequência cardíaca, de volume sistólico, de débito cardíaco e aumentos moderados de pressão arterial média. Com isso, temos a deposição de sarcomeros em série, causando um alongamento dos cardiomiócitos e configurando o que chamamos de HIPERTROFICA CARDÍACA EXCENTRICA, porém essa alteração não está relacionada a perda da função cardíaca e sim se trata de uma condição fisiológica imposta pela prática de exercícios aeróbicos freqüentes.

ATLETAS DE FORÇA E POTÊNCIA (Exercícios Resistidos de Musculação)

Atletas dedicados ao treinamento de força (treinamento resistido) apresentam períodos breves com aumentos consideráveis da pressão arterial sistólica e diastólica, e aumentos moderados da frequência cardíaca, do volume sistólico e do débito cardíaco. No entanto, a espessura do miocárdio não ultrapassa o limite da normalidade e as câmaras cardíacas apresentam discreto aumento ou ausência de aumentos, mas nunca diminuem, configurando o que chamamos de HIPERTROFICA CARDÍACA CONCÊNTRICA, porém essa alteração não está relacionada a perda da função cardíaca e sim se trata de uma condição fisiológica imposta pela prática de exercícios anaeróbicos freqüentes, sem prejuízos a saúde cardiovascular.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na observação de um ecocardiograma, onde verifica-se uma provável alteração anatômica da câmara cardíaca de um paciente, sugerindo assimetria septal ventricular, é muito comum surgir a dúvida se a mesma é de origem fisiológica (coração de atleta) ou patológica (ligada a doenças cardíacas), deixando o profissional muitas vezes em dúvida e enquadrando o caso clínico no que chamamos de zona de risco cinza.

Porém, nesses casos a conduta mais eficaz é afastar esse atleta da atividade física ou esporte por um período de pelo menos 6 meses, onde após esse tempo deverão ser repetidos os exames, pois se a alteração for de origem fisiológica, o ventrículo alterado anatomicamente pelo exercício físico, voltará ao padrão de normalidade. Já por outro lado, se após esse tempo houver ainda comprometimento estrutural do miocárdio, podemos suspeitar de uma cardiopatia, encaminhando o mesmo para cuidados mais específicos.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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