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Artigo - Imunologia aplicada á medicina do esporte: A influência do treinamento resistido de musculação na melhora do sistema imunológico

A fisiologia humana cada vez mais nos revela, através dos mais diversos estudos científicos, a intrínseca relação dos sistemas, endócrino e imunológico, que estão constantemente fazendo um trabalho em conjunto em prol da homeostase (equilíbrio interno) do organismo. Mas do que nunca, sabemos que a manutenção da saúde integral do ser humano e qualidade de vida depende de alguns fatores, dentre eles, podemos destacar uma alimentação adequadamente balanceada, controle emocional do estresse e pratica frequente de atividades físicas. Com destaque a prática de atividade física, estudos mostram os benefícios do treinamento aeróbico e anaeróbico para a saúde cardiovascular e sistêmica como um todo. Mas como será que o treinamento resistido de musculação pode induzir a modificações em nosso sistema bioquímico / fisiológico a ponto de trazer repercussões na fisiologia hormonal e nas células imunológicas ?

Artigo - Imunologia aplicada á medicina do esporte: A influência do treinamento resistido de musculação na melhora do sistema imunológico Crédito: Banco de imagens

Vamos lá, os exercícios físicos praticados de forma intensa, produzem alterações bioquímicas no organismo que culminam na produção de moléculas sinalizadoras conhecidas como citocinas. As citocinas podem ter origem, como moléculas de ação pro-inflamatórias ou de ação anti-inflamatória, sendo proteínas de baixo peso molecular produzidas por diferentes tipos de células corporais, principalmente células imunes e que agem de maneira autócrina (com atividade na própria célula), parácrina (atividade nas células vizinhas) e endócrina (atividade em regiões distantes, transporte via corrente sanguínea).

As citocinas podem ser classificadas de acordo com sua função, isto é, pró-inflamatória ou anti-inflamatória. Citocinas pró-inflamatórias induzem o aumento do processo inflamatório, como por exemplo: interleucina-1β (IL-1β), interleucina-6 (IL-6), interleucina-8 (IL-8) fator de necrose tumoral (TNF-α), interferons (IFN), interleucina-2 (IL-2) e quimiocinas. As citocinas anti-inflamatórias caracterizam-se pela diminuição do processo inflamatório, regulando a inflamação pelo estímulo da diminuição de citocinas pró-inflamatórias, dentre elas destacam-se: a interleucina-4 (IL-4), interleucina-10 (IL-10), interleucina-13 (IL-13), assim como, o receptor antagonista da IL-1 (IL-1ra). Sabemos que a maior produção de citocinas se dá pelo tecido adiposo, hoje em dia já considerado um órgão endocrino, por produzir vários mediadores químicos, sendo a maioria de origem pro-inflamatórias, com exceção da adiponectina, que possui ação anti-inflamatória,  já sendo considerada um hormônio importante, principalmente na regulação da termogênese corporal, porém as principais adipocinas de origem inflamatória produzidas pelos adipócitos são a IL-6, o TNF-α, a leptina (pro-inflamatória), cujo os efeitos desses marcadores caracterizam a obesidade como uma inflamação crônica constante.

A liberação destes marcadores não só pelo tecido adiposo, mais por outros tipos decélulas causa um processo inflamatório que está envolvido na fisiopatologia de alguns fatores de risco de doenças cardiovasculares e diabetes, como: resistência a insulina, pressão arterial elevada, dislipidemia, síndrome metabólica, dentre outros. Já pela ação do treinamento resistido intenso, observamos a diminuição constante do tecido adiposo, contribuindo para a diminuição das citocinas inflamatórias, restabelecendo o equilíbrio homeostatico. Por outro lado, ocorre a produção de tipos moleculares de citocinas com origem na musculatura esquelética, chamadas de miocinas. As miocinas possuem ação anti-inflamatória, sendo potentes estimuladoras de IL- 6, tendo ação antiinflamatória e derivada da contração muscular, podendo ainda contribuir para o aumento da resposta imunológica, trazendo uma maior eficiência das células do sistema imune como neutrófilos macrófagos e linfócitos, porém essa cascata bioquímica ocorre num primeiro plano como uma resposta inflamatória, através de aumentos nos níveis séricos de IL-1, TNF-α e da citocina responsiva IL-6, seguido pela liberação de citocinas anti-inflamatórias, como IL-10, e de IL-1ra, sTNF-r2 que são inibidores das citocinas pró-inflamatórias. Considerada como anti-inflamatória, a IL-6 possui as seguintes funções: inibe a produção de fatores pró- inflamatórios como TNF-α e IL-1B, estimula a produção de IL-1ra e IL-10, induz a liberação de receptores solúveis de TNF-α e ainda induz a expressão de diversas proteínas com propriedades anti- inflamatórias, portanto o efeito a longo prazo do exercício pode ser atribuído a resposta anti-inflamatória que ele proporciona, a qual é mediada pela IL-6 derivada do músculo esquelético, estando relacionada a contração muscular mais intensa, originada da prática do treinamento resistido de musculação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os exercícios físicos praticados de forma intensa, produzem alterações bioquímicas no organismo que culminam na produção de moléculas sinalizadoras conhecidas como citocinas, podendo essas serem de origem pró-inflamatórias ou anti-inflamatórias.

Com a ação do treinamento resistido de musculação freqüente e intenso, observamos em primeiro momento a presença de um processo inflamatório, seguido de um processo anti-inflamatorio e de melhora de resistência imunológica, através da produção de miocinas e de outras citocinas antiinflamatórias, que restabelecem o equilíbrio imuno-metabólico, uma vez que as mesmas possuem ação anti-inflamatória.

A interleucina 6 aumenta no exercício, sinalizando a inflamação aguda, mas leva ao aumento de outras interleucinas como IL-1ra e a IL-10 que apresentam um efeito antiinflamatório crônico.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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