Dr. Edson Carlos Z. Rosa
Cirurgia da Face
Fisiologia Humana Geral e do Esporte
Doutor em Ciências Médicas (h.c)
Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício
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Sabemos da nobre importância de noites bem dormidas para a manutenção da saúde e qualidade de vida dos seres humanos. Por outro lado, qualquer fator crônico que possa comprometer o transcorrer do sono humano, colabora de forma prejudicial ao organismo, podendo colocar o mesmo em risco, abrindo as portas para uma série de doenças e até mesmo para o risco de óbito.
Dentre as possíveis alterações do sono, destacamos aqui neste artigo, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). A Síndrome consiste na obstrução total ou parcial das vias aéreas superiores durante o sono. Estas interrupções respiratórias geralmente acarretam numa redução do oxigênio sanguíneo, culminando em consequentes e repentinos despertares na noite, proporcionando fragmentação do sono e liberação de hormônios e também metabólitos que aumentam o risco de doenças cardiovasculares (tais como hipertensão e cardiopatias) e cerebrovasculares (por exemplo AVCs).
INCIDÊNCIA
Estudos recentes apontam que a SAOS acomete cerca de 30% da população, sendo que sua prevalência pode atingir 50% dos indivíduos em subgrupos específicos, incluindo sexo masculino, indivíduos mais velhos e aqueles com sobrepeso ou obesidade. Atualmente nos EUA, estima-se que cerca de 75% a 80% dos portadores da SAOS não tenham conhecimento sobre seu diagnóstico.
FATORES DE RISCO
Podemos dizer que trata-se de uma doença multifatorial, sendo a obesidade reconhecida como principal fator de risco populacional para o desenvolvimento da doença. No entanto, alterações anatômicas da via aérea superior que possam reduzir o fluxo aéreo oronasal também estão envolvidas na fisiopatologia desta doença, tais como desvios do septo nasal, hipertrofia das conchas nasais, hipertrofia adenoamigdaliana ou ainda discrepâncias esqueléticas maxilomandibulares.
SINTOMAS
O ronco durante o sono, quer seja alto ou baixo, é o sintoma mais comum e que normalmente leva o indivíduo a procurar auxílio profissional, estimulado pelo parceiro ou familiar. Outros sintomas também estão presentes em maior ou menor intensidade a depender da gravidade da doença, como fadiga, dores de cabeça ao acordar, sonolência diurna excessiva, alterações cognitivas, prejuízo à memória, diminuição da libido, impotência sexual e transtornos do humor (depressão).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é fundamental para o adequado tratamento da SAOS. Este é feito por meio de uma avaliação clínica minuciosa complementado por uma polissonografia, que além do diagnóstico, proporcionará informações sobre a gravidade da doença. Exames como a nasovideolaringofibroscopia, a sonoendoscopia e a tomografia computadorizada das vias aéreas superiores são exames complementares que auxiliam na identificação do sítio de obstrução e podem contribuir para decisão terapêutica.
TRATAMENTOS
O tratamento da apneia obstrutiva é feito por uma equipe multiprofissional e pode ser clínico ou cirúrgico.
PROCEDIMENTOS CLÍNICOS
O tratamento clínico inclui opções para pacientes que não apresentam alterações anatômicas passíveis de correções cirúrgicas, ou ainda para aqueles que não apresentam condições clínicas para procedimentos cirúrgicos. O aparelho intraoral e os aparelhos de pressão positiva (CPAP) são opções viáveis para evitar a obstrução da via aérea superior e controlar a SAOS.
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
Dependendo da gravidade da doença e no local da obstrução, diversos procedimentos cirúrgicos podem ser realizados isoladamente ou em associação ao tratamento clínico da SAOS, como cirurgias nasais, faríngeas ou esqueléticas da face.
A cirurgia esquelética da face ou avanço maxilomandibular é um procedimento cirúrgico que, por meio de osteotomias (fraturas induzidas pelo cirurgião nos ossos da face), permitem mudanças no esqueleto facial visando à ampliação da via aérea superior, consequentemente impedindo sua obstrução. Apresenta taxas de sucesso em torno de 85%, sendo que em aproximadamente 40% dos casos pode se obter a cura da doença. É um procedimento cuja principal vantagem é a estabilidade de resultados a longo prazo.
INFLUÊNCIA NO DESEMPENHO DOS ATLETAS E PRATICANTES DE ATIVIDADES FÍSICAS
Sabemos muito bem que a privação ou qualquer fator que possa comprometer o sono influencia negativamente o desempenho de um atleta de alta competição em vários níveis. Os efeitos fisiológicos e metabólicos oriundos dos distúrbios na qualidade do sono, tais como na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), afetam diretamente a performance atlética de indivíduos, pois os mesmos induzem a diminuição da capacidade motora humana, o que aumenta substancialmente a probabilidade de lesões.
Observamos também que o tempo de reação e de resposta nos reflexos neurológicos permanece diminuído.
Outro fato notável, observamos nos níveis de glicose sanguínea, que estão alterados no atleta que sofre de distúrbios de sono, o que influencia negativamente o desempenho físico, principalmente em atletas de endurance (maratonistas), onde é necessário que as reservas energéticas estejam restabelecidas. Em termos psicoemocionais, os efeitos da falta de sono podem ser consideráveis, tais como alterações de humor, sensação de cansaço, ansiedade, dentre outros, que vem a alterar por completo a pré-disposição para a competição, com resultados muitas vezes aquém do esperado.
Um outro efeito bastante expressivo observado, são as lesões por ‘overtraining’ (excesso de treinamento), que se torna bastante evidente em portadores de distúrbios como a apneia obstrutiva do sono.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto neste artigo, especialidades como a Cirurgia da Face (crânio e bucomaxilofacial) e Medicina do Esporte e Exercício, se interligam de forma mútua, pois distúrbios como a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), podem ser corrigidos cirurgicamente, através das cirurgias esqueléticas da face, trazendo excelentes resultados funcionais, pois a SAOS se caracteriza como um dos principais distúrbios do sono, que se não for tratado adequadamente, virá a repercutir de forma negativa no metabolismo físico do indivíduo atleta ou adepto dos esportes.
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