SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Nutrição do bebê prematuro necessita de esclarecimentos

ONG Prematuridade.com ressalta importância da dieta precoce

Nutrição do bebê prematuro necessita de esclarecimentos Nutrição do bebê prematuro necessita de esclarecimentos
Crédito: BANCO DE IMAGENS

A nutrição do recém-nascido prematuro é um dos principais desafios enfrentados nas UTI’s Neonatal e pelas famílias dessas crianças. Os bebês pré-termo necessitam de cuidados especiais e, por mais complicada que a situação possa parecer, ações como o aleitamento materno, por exemplo, são possíveis, ressalta a fundadora e diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani.

A nutricionista especialista em neonatologia, membro do Conselho Científico e da coordenação da campanha Novembro Roxo, da ONG Prematuridade.com, Viviane Matos, ressalta que a nutrição precoce é de extrema importância para os bebês prematuros. “Existem evidências suficientes de que a nutrição inadequada em períodos precoces da vida provoca forte impacto no desenvolvimento em longo prazo. A má nutrição em um período vulnerável do desenvolvimento cerebral resulta, entre outras, na diminuição do número de células cerebrais, com prejuízos importantes no desenvolvimento cognitivo, comportamento, aprendizado e memória”, explica. “Além disso, é preciso lembrar que o prematuro já nasce em uma situação de risco nutricional, uma vez que perdeu o período de estoque de nutrientes (3° trimestre de gestação). Como se não bastasse as baixas reservas nutricionais, o prematuro apresenta uma alta demanda metabólica, com necessidades nutricionais aumentadas. Com toda certeza, podemos dizer que nutrir um prematuro é um grande desafio”, completa.

Um dos problemas mais graves decorrente de nutrição precoce inadequada é a Enterocolite Necrosante, quadro inflamatório do trato digestivo. “Pode ser causada pelo fato de o bebê não ter recebido a nutrição precoce ou não ter recebido leite da própria mãe ou de doadora. É uma doença grave, que pode causar sequelas como estreitamentos (estenoses) intestinais, necessidade de ressecção intestinal (retirada de partes do intestino), dificultando assim a absorção intestinal de alguns nutrientes e pode ser fatal”, pontua Viviane.

Em função da imaturidade do trato gastrointestinal desses bebês e da falta de reflexos de sucção e deglutição, eles podem precisar receber suas primeiras calorias por via intravenosa. Os prematuros muito extremos, que ainda não conseguem sugar, recebem água com glicose (soro) e, com o passar do tempo, vai-se acrescentando proteínas, gorduras, vitaminas e minerais aos fluidos que recebem através da veia, a chamada Nutrição Parenteral Total (NPT). “A Nutrição Parenteral salva vidas”, salienta a nutricionista. “E é imprescindível que seja iniciada ainda nas primeiras 24 horas de vida, período crítico de adaptação do prematuro”, salienta.

Viviane explica que se o bebê já tiver maior maturidade gastrointestinal, a alimentação é iniciada através de uma sonda, um tubo flexível que é introduzido no nariz (nasogástrica) ou na boca (orogástrica) e chega ao estômago do bebê. “Dessa forma, o leite materno, seja da própria mãe ou de doadoras, ou mesmo fórmulas infantis, na falta do leite humano, são oferecidos para o prematuro na UTI”, fala. “A dieta enteral é muito importante para a saúde do prematuro, uma vez que auxilia na maturação intestinal e evita complicações como atrofia das vilosidades e translocação bacteriana”, complementa.

Geralmente, os primeiros ml's de dieta que o bebê irá receber pela sonda será o colostro da mãe, leite produzido pela mulher nos primeiros sete dias após dar à luz. “Ele é rico em vitaminas lipossolúveis, anticorpos, proteínas e possui diversos benefícios para o fortalecimento da imunidade da criança”, lista Viviane. “Sendo assim, é fundamental a colostroterapia, que consiste na exposição da mucosa da boca do bebê a pequenas quantidades de colostro cru. Isso possibilita o contato da mucosa com essa secreção e auxilia não só na absorção de fatores imunes, mas também estimula o próprio sistema imunológico da criança a se desenvolver”, pontua.

 

Aleitamento materno

 

O leite materno da mãe prematura que teve um bebê com 29 semanas é diferente da que teve com 31 semanas ou da mãe que teve um bebê a termo, porém, todos esses leites são adequados às necessidades da criança, frisa a nutricionista. “Acredita-se ainda que a composição nutricional do leite da mãe de prematuro é diferenciada no primeiro mês de vida, quando comparado ao leite da mãe de um recém-nascido a termo. Os estudos mostram que o leite da mãe de prematuro apresenta um maior teor calórico, proteico, lipídio e de componentes imunológicos. É como se a natureza tentasse compensar as altas demandas nutricionais do prematuro através do leite da sua mãe”.

Nos casos em que a produção do leite materno se torna insuficiente e não é possível oferecer leite humano de bancos de leite, é necessário recorrer a leites artificiais. “Existem atualmente fórmulas lácteas especialmente concebidas para prematuros, que são reforçadas com calorias e nutrientes para que correspondam às exigências nutricionais no período de crescimento rápido dos prematuros”, fala.

Mesmo que o bebê não esteja com a mãe no quarto da maternidade e não haja perspectivas de ele sugar o seio tão cedo, a diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani, reforça que é preciso pensar imediatamente na amamentação. “O estímulo ao aleitamento materno na UTI pode ser mais complicado, mas é possível, sim, amamentar o prematuro. A melhor dieta sempre será o leite da mãe. No caso dos bebês prematuros, é algo que requer mais paciência, mas é importante que as equipes dos hospitais orientem e estimulem as mães, sem pressioná-las demais, pois o aleitamento materno vale ouro”.

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