SAÚDE DA MULHER E DA GESTANTE

Entenda a diferença entre câncer de colo de útero e câncer de endométrio

Integrantes do grupo de cânceres ginecológicos, neoplasias são constantemente confundidas. Especialistas explicam as diferenças abaixo

Entenda a diferença entre câncer de colo de útero e câncer de endométrio Entenda a diferença entre câncer de colo de útero e câncer de endométrio
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Em julho, entidades médicas utilizam o mês para conscientização dos cânceres ginecológicos - que englobam útero, ovário, endométrio, vagina e vulva. O mais comum deles é o câncer do colo do útero, ou câncer cervical, que atinge cerca de 15 mil mulheres todo ano. Já o de endométrio, que é o revestimento da cavidade uterina, embora pareça a mesma coisa, é outro tipo de câncer e atinge entre 6 e 7 mil pessoas no Brasil, anualmente.

 

Às vezes, essas duas neoplasias são confundidas pelos pacientes, mas cada uma tem sua particularidade e os especialistas Cássio Trindade e Daniel Monteiro explicam as diferenças.

“É comum que, ao tomar conhecimento da enfermidade, resuma-se em ‘é câncer no útero’. Mesmo que estejam no mesmo órgão, é interessante saber que existem neoplasias diferentes, que agem de forma diferente, têm fatores de risco, sintomas e tratamentos diferentes”, comenta o oncologista Daniel Monteiro.

 

Fatores de Risco

O principal fator de risco para o câncer do colo do útero é a exposição ao papiloma vírus humano, o HPV. “Ele está associado ao contato físico envolvendo uma área afetada pelo vírus durante a atividade sexual. Sendo assim, o uso de preservativo, por exemplo, é uma das principais formas de prevenir o contágio pelo HPV e, consequentemente, o câncer”, diz Daniel Monteiro.

 

Já o câncer de endométrio possui como fator de risco a predisposição genética, hiperplasia (crescimento) endometrial, anovulação crônica, uso de hormônio feminino para reposição hormonal após a entrada na menopausa, primeira menstruação precoce, menopausa tardia, nunca ter engravidado, entre outros.

 

Prevenção e rastreamento

A vacinação contra o HPV é o principal fator preventivo para o câncer de colo de útero. “Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza a vacina contra o HPV para adultos, ou meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. O ideal é que seja aplicada antes do início da atividade sexual”, diz Daniel Monteiro.

 

O médico lembra que o exame preventivo, ou Papanicolau, é muito importante para o rastreamento do câncer de colo de útero. “Ele é capaz de identificar alterações em células do colo uterino relacionadas à infecção pelo vírus que, se não forem tratadas, podem evoluir para câncer. Esse exame deve ser realizado periodicamente em mulheres que estejam na faixa dos 25 a 64 anos”, diz o médico.

 

Já o câncer de endométrio possui alguns fatores que são considerados de proteção, como engravidar, praticar atividade física e manter o peso corporal saudável. “Mas não garantem que a paciente não pode ser acometida pela doença”, pondera Daniel.

 

Sintomas e Diagnóstico

O radio-oncologista do Instituto de Radioterapia São Francisco, Cássio Trindade, destaca que nem sempre a infecção pelo HPV é acompanhada de sintomas. Apenas alguns tipos do vírus são capazes de causar verrugas genitais. “É muito comum que o diagnóstico ocorra após a realização dos exames periódicos, como o Papanicolau, por isso a sua importância”, diz.

No câncer de endométrio, sangramento fora do período menstrual, fluxo alterado e sangramento em mulheres já na menopausa são sintomas comuns, mas que não são exclusivos do câncer. “Nesse caso, é importante observar os sinais do organismo. A detecção precoce do câncer é fundamental”, alerta Daniel.

 

Tratamento

Em ambos os casos, há a possibilidade de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, que podem ser empregadas separadamente ou em conjunto de acordo com a forma como o tumor se apresenta.

 

Nos estágios iniciais de câncer do colo do útero, quando a doença é limitada ao útero (estágios  IA, IB1 e  IIA), o tratamento geralmente envolve a histerectomia radical, que consiste na retirada do útero, colo do útero, a parte superior da vagina, os paramétrios (um tipo de tecido de sustentação do útero) e os linfonodos pélvicos.

 

“Em casos iniciais bem selecionados, em que a paciente deseja preservar a fertilidade, pode-se avaliar a preservação de algumas estruturas”, comenta Cássio.

 

O objetivo da cirurgia como tratamento principal nas pacientes com tumores iniciais é selecionar aquelas pacientes com baixo risco de precisar de algum tratamento adjuvante, como radioterapia e quimioterapia. Mas, dependendo do caso, a paciente pode necessitar desses tratamentos. “Vale ressaltar que nem todas as pacientes estão aptas a realizar algum procedimento cirúrgico, nesse cenário pode-se avaliar também o tratamento com radioterapia definitiva associada ou não à quimioterapia”.  

 

Tumores em estágios mais avançados têm maiores chances de recidiva e pior sobrevida. “Nesses casos, não se procede com a cirurgia inicial isolada porque ela provavelmente não será curativa. Nesse cenário, o tratamento preconizado é a associação de radioterapia externa com quimioterapia (quimioirradiação). Após a quimiorradiação as pacientes são ainda submetidas a uma outra modalidade de radioterapia, chamada de braquiterapia ginecológica”, explica Cássio.

 

Diferente do câncer de colo de útero, a maioria das mulheres com neoplasia de endométrio potencialmente curável são submetidas a cirurgia de remoção do útero e anexos uterinos, salvo nos casos em que existe risco cirúrgico proibitivo.

 

Baseado nos resultados encontrados na cirurgia, como grau histopatológico do tumor, estágio, tamanho e presença de invasão angiolinfática bem como em características da própria paciente como a idade, a doença é classificada em baixo risco, risco-intermediário ou alto risco de recidiva, sendo esta classificação determinante para indicação de algum tratamento adicional.

 

“A cirurgia por si só costuma ser curativa para mulheres com baixo risco, mas não descarta a necessidade de exames periódicos determinados pelo médico. Mulheres com doença de risco intermediário ou alto podem se beneficiar com radioterapia (externa, braquiterapia ginecológica ou ambas)”, sintetiza Cássio.

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