A criança obesa de hoje pode ser o adulto com doença renal
crônica de amanhã. Além de todos os problemas físicos e sociais que o excesso
de peso acarreta, ele ainda pode ser o "abre-alas" para patologias
sérias, como o diabetes e a hipertensão, que danificam órgãos e acarretam
doenças renais crônicas. O mau funcionamento dos rins exige tratamento com
implicação em vários aspectos da vida, desde mudança da dieta e medicamentos de
uso contínuo e, em casos extremos, pode levar à necessidade de diálise e transplante
do órgão, comprometendo a qualidade de vida dessas pessoas.
A associação entre obesidade infantil e possíveis danos
renais foi alertada já em artigo datado de 2006, por pesquisadores da Johns
Hopkins University. Ao longo dos anos, novos grupos de crianças somaram-se a
este grupo de risco para doença renal crônica. Com novas conquistas
tecnológicas, vários recém-nascidos prematuros com menos de 1 kg também
começaram a apresentar sobrevida mais longa, o que mostrou-se em vários estudos
como fator predisponente tanto para obesidade futura como para doença renal
crônica.
De acordo com o Censo de 2017, divulgado pela Sociedade
Brasileira de Nefrologia (SBN), temos 126 mil pacientes em diálise no país e,
em média, 35 mil pacientes novos entram em tratamento e cerca de seis mil são
transplantados. Infelizmente, a taxa de mortalidade é elevada e se mantém
constante, devido à concomitância de complicações cardiovasculares nestes
casos.
A preocupação da SBN em relação aos dados divulgados à
imprensa pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apontando que o número de
crianças e adolescentes acima do peso entre 5 e 19 anos chega a 124 milhões, e
existe uma grande chance de essas pessoas manterem o sobrepeso ou a obesidade
ao chegar à idade adulta caso nada seja feito. Para se ter uma ideia da
gravidade do problema, há cerca de quatro décadas, em 1975, esse número era de
11 milhões. Mantendo-se a tendência, até 2022, o mundo terá mais crianças e
adolescentes acima do peso do que desnutridos.
Portanto, a sociedade moderna terá que encontrar ferramentas
para lidar com um problema de saúde pública, que onera o sistema e cria uma
geração de pessoas doentes sob o ponto de vista físico e emocional, uma vez que
o excesso de peso está associado à disfunção de diversos órgãos e também pode
levar a consequências sobre a saúde mental, como perda de autoestima e
depressão.
Quando se trata de mulheres, a questão torna-se ainda mais
aguda. Durante a gestação, aumenta-se o risco do desenvolvimento de patologias
como hipertensão e diabetes na mãe. Se há um histórico desse tipo de doença
promovido anteriormente pelas doenças relacionadas à obesidade precoce,
engravidar poderá exigir uma série de cuidados mais intensivos, tanto por parte
da gestante quanto pela equipe de saúde.
É fato que a genética contribui para futuras gerações de
obesos, mas a falta de atividade física, da alimentação desregrada e
hipercalórica são os maiores promotores dos problemas sérios com a balança. A
grande oferta de alimentos ricos em gordura e açúcares e o excesso de sal,
principalmente nos alimentos processados associados à tendência à inatividade
física induzida por excesso de uso de computadores, celulares e tablets,
contribuem para o ganho de peso progressivo.
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