SUPERAÇÃO

Superação: João Saci

A surpreendente história do atleta que teve a perna amputada e venceu o câncer por cinco vezes

Superação: João Saci João Saci
Crédito: Fotos: Arquivo Pessoal

Que a vida é feita de altos e baixos, todos já sabem. Mas, muitas vezes, é preciso ser forte além da conta para enfrentar desafios ainda maiores do que se pode imaginar. Foi assim com João Carlos Rodovalho Costa que precisou amputar uma das pernas e vencer o câncer cinco vezes ao longo de 15 anos. Hoje, aos 37, ele é conhecido como João Saci nas redes sociais e vive em Goiânia, sua cidade natal. Graduado em gestão financeira, com especialização em controladoria de gestão, João Carlos também tornou-se atleta paralímpico, acumulando mais de 40 medalhas, além de escrever o livro ‘Nascido para vencer’ e tornar-se palestrante por todo o Brasil, com o intuito de encorajar outras pessoas através de sua história.

“Em 2001, aos 17 anos, eu estava no início da carreira de natação quando recebi o primeiro diagnóstico de câncer, era um tumor grande no joelho esquerdo. Quando minha mãe me contou tive todos os sentimentos de perder o chão, de não saber o que fazer, mas precisava passar pela quimioterapia para ficar bem. Pouco tempo após o início do tratamento, que durou 10 meses, veio outra notícia que mudou a minha vida: o tumor havia tomado conta do joelho e eu precisaria amputar a perna esquerda. Chorei muito, mas no consultório já decidi o dia e o horário da amputação, entendia que seria necessário para continuar vivo. Na segunda vez, no final de 2005 e início de 2006, foram 12 nódulos nos dois lados do pulmão, depois da biópsia veio a confirmação de que era câncer. Eu estava no auge da minha carreira de natação, fazendo meus melhores tempos, porém, tive que parar a vida e os projetos novamente, fazer quimioterapia e ir à São Paulo para fazer um autotransplante de medula. O tratamento foi difícil, durou cerca de oito meses e cheguei a pesar 54kg, além de estar longe da família e dos amigos”, relata.  

O terceira diagnóstico foi em 2009, quando João fez um raio-x porque estava sentindo dor no peito e apareceu outro nódulo, no ápice do pulmão esquerdo. Dessa vez foi somente a cirurgia e não precisou fazer quimioterapia. Em 2010, o quarto diagnóstio e João, passou por outra cirurgia, na qual foi retirada parte do pulmão esquerdo, o tumor estava perto de uma artéria. O último foi em 2016, o nódulo estava entre a pleura e o pericárdio, do lado esquerdo do tórax, então João passou por mais uma cirurgia e ficou dois dias no hospital. João conta que nos três últimos diagnósticos, a recuperação demorou cerca de dois meses cada.  

“Os períodos mais difíceis foram quando eu precisava passar pela quimioterapia, ficava doente com facilidade por conta da imunidade baixa, sentia fraqueza, não tinha disposição para nada e entrei em depressão. Ficava enjoado, mas me forçava a comer, porque sabia que meu corpo precisava de nutrientes para se recuperar. A minha alimentação era a mais leve possível e de fácil digestão, às vezes minha avó processava tudo no liquidificador e fazia uma sopa, eu evitava fritura, gordura e carne vermelha. Por não poder estudar, passava muito tempo em casa, então tentava ocupar meu tempo lendo, vendo filmes e ouvindo música. Porém, quando não tinha problemas com a imunidade, procurava viver a vida normalmente, frequentava cinemas, bares e saía com meus irmãos e amigos. No início de 2019, eu ainda morava no Rio Grande do Sul, havia me mudado para lá em 2006 por conta do meu casamento que durou 12 anos. Após a separação, decidi voltar para Goiânia”, lembra João Carlos.  

 

RECUPERAÇÃO  

“A superação foi acontecendo diariamente. Em alguns dias estava bem, tudo caminhando conforme o planejado, mas em outros me revoltava com a situação. O que me deu forças foi a minha fé, crer que havia um propósito em tudo e que as coisas teriam que acontecer comigo e não com outra pessoa. Nesse momento foi essencial acreditar em Deus e ter o apoio da minha família, pois em momentos de desespero eles eram o meu porto seguro. Vale lembrar que tive o acompanhamento de psicólogos e outros profissionais. O esporte também foi fundamental em todo o processo, pois além do benefício de praticar atividade física desde o ano 2000, eu tinha uma alimentação controlada, hábitos saudáveis e o meu corpo estava preparado para as dificuldades do tratamento. Meu médico dizia que poderia dar uma dose mais forte de medicação porque meu corpo era mais resistente. Em todas as cirurgias, até a retirada de parte do pulmão, não precisei ficar muito tempo em UTI, e o uso de oxigênio era por pouco tempo, graças à minha capacidade respiratória por conta da natação. Segundo os médicos, o paciente é considerado curado após cinco anos sem o aparecimento de novos tumores, mas eu já me considero curado, porque posso fazer minhas coisas, manter minha rotina, trabalhar, treinar e ter saúde”, explica João Carlos.  

Hoje Jõao consegue enxergar os aprendizados e a maturidade que adquiriu diante de tudo o que passou. “Problemas vão sempre existir, mas aprendi a seguir em frente apesar das dificuldades. Um ponto importante que abordo em minhas palestras é sobre a autoaceitação. Quando você se aceita, com seus defeitos e virtudes, tudo se torna mais leve. Eu sou o João Saci, o cara que não tem uma perna, não tem metade do pulmão, que gosta de treinar, gosta de se desafiar, passa por vários problemas, sofre, ri, chora e sente o peso de tantos recomeços”, enfatiza.  

João Saci foi atleta de natação por 14 anos e sua categoria era a S9, na qual conquistou vários títulos, porém, desde 2014 até hoje ele é atleta de crossfit adaptado. “O que me der vontade de experimentar, eu tento praticar. Atualmente, o meu foco é o crossfit, mas estava treinando para ir ao acampamento base do Everest, que será meu próximo desafio. A viagem era para ter acontecido em abril deste ano, mas por conta da pandemia de coronavírus o Nepal fechou suas fronteiras, adiando o projeto. Gosto de coisas que desafiem minha resistência fisica e mental. Já fiz basquete em cadeira de rodas, andei de wake board, fiz corrida de rua de muletas e até corrida de aventura durante o período em que estava fazendo uma campanha de financiamento coletivo. Eram 9km, sendo 5km no asfalto e 4km no campo de treinamento do exército. Realizei esse percurso de muleta porque queria mostrar que estava disposto a fazer de tudo para conseguir comprar minha prótese de corrida”, revela a fera.  

 

ALIMENTAÇÃO E TREINOS

João Saci conta que seu acompanhamento nutricional é feito por uma nutricionista que  prescreve seu plano alimentar de acordo com suas necessidades e objetivos  em cada período de treino. No geral, ele consome carboidratos, proteínas e gordura, evitando o excesso de alimentos industrializados. “Às vezes como uma pizza, um sanduíche ou algo do tipo, mas não é a regra. Evito alimentos com muito açúcar e também não tomo mais refrigerante. Tenho facilidade em perder peso, sempre tive o tipo físico mais magro, mas pratico exercícios e me alimento bem pela minha saúde, o restante vem como consequência da minha dedicação. Faço em torno de sete refeições diárias: café, lanche manhã, almoço, lanche da tarde, pré-treino, jantar e ceia, além dos suplementos alimentares que utilizo: whey protein, BCAA, glutamina e creatina”.  

Os exercícios que compõem os treinos diários de João Saci são: crossfit, musculação e caminhadas, todos com orientação profissional. “Na natação, eu treinava em torno de duas horas e meia por dia na piscina, seis vezes na semana, além da musculação que durava em torno de uma hora, três vezes semanais. Na preparação para o Everest, era uma hora de crossfit (seis vezes semanais), mais uma hora de musculação (quatro vezes semanais), caminhada com carga adicional, sem contar o trabalho de fisioterapia respiratória, duas vezes na semana. Na quinta, tenho um rest ativo para recuperar um pouco a musculatura que está fadigada, então o treino é mais leve, e no domingo é rest total”, explica o atleta.

“Se você quer conquistar algo, tem que abrir mão de muita coisa, tem que se dedicar inteiramente e ir atrás do seu objetivo. Tem gente que vai duvidar da sua capacidade e você tem que se blindar dessa negatividade. O esporte me ensinou a fazer o possível e ir atrás do impossível para conquistar uma medalha, a ter uma mente resiliente e recomeçar quantas vezes forem necessárias”, finaliza João Saci.  

 

PERFIL:

João Carlos Rodovalho Costa – João Saci

Nascimento: 28/07/1983  

Cidade natal: Goiânia/GO

Onde vive: Goiânia/GO

Peso: 74kg

Altura: 1,85m

 

Redes Sociais:

Instagram: @joaosaci

 

PRINCIPAIS TÍTULOS:

2011 –  1º Lugar 100m costas S9, circuito Loterias Caixa Regional Sul

2005 – 1º Lugar 100m costas S9, circuito Loterias Caixa

2004 – 1º Lugar 100m costas, categoria S9 e índice classificatório para as Paralímpiadas de Atenas

2004 – 2º Colocado no Campeonato Brasileiro Paralímpico, 50m livres

2003 – Campeão do Open de Natação Paralímpica nos 100m costas

2002 – Campeão Brasileiro de natação em 100m costas S9 Natal

 

CARDÁPIO DE JOÃO SACI:

Café da manhã: ovos e dois tipos de frutas

Lanche da manhã: fruta, aveia e whey protein

Almoço: uma porção de proteína, arroz, feijão, legumes e salada a vontade. Uma fruta

Lanche da tarde: uma proteína(ovos) e uma porção de carboidrato(batata doce)

Pré-treino: normalmente é uma porção de arroz com uva passa

Jantar: uma porção de proteína, uma porção menor de carboidrato, legumes e salada a vontade

Ceia: whey protein, pasta de amendoim e banana

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