PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo: Disruptores endocrinológicos

As substâncias hormonais ocultas em nosso dia a dia

Artigo: Disruptores endocrinológicos Na área esportiva, os disruptores endócrinos (DEs) interferem no metabolismo hormonal
Crédito: BANCO DE IMAGENS
Dr. Edson Carlos Z. Rosa
Cirurgia da Face
Fisiologia Humana e Metabologia do Esporte
Desempenho e Performance Física
Instagram: @edsoncarlosrosa

Você já ouviu falar sobre os disruptores endócrinos? 
O nome parece ser difícil, porém vem ganhando cada vez mais espaço na comunidade científica, devido a inúmeros relatos de casos clínicos apresentados, inerentes a alterações no metabolismo hormonal humano.
Os disruptores endócrinos (DEs) (endocrine disruptors chemicals) consistem em uma gama de substâncias químicas xenobioticas (compostos químicos estranhos a um organismo ou sistema biológico) cujo seu funcionamento vem a interferir no equilíbrio do sistema hormonal, alterando a forma natural de comunicação do sistema endocrinológico, atuando de forma agonista (estimulante) ou antagonista (inibidora) dos receptores hormonais no metabolismo humano. 
Em outras palavras, possuem como mecanismo de ação a imitação dos hormônios naturais produzidos pelo próprio organismo (como exemplo os estrogênios- hormônios femininos), bloqueando a ação hormonal natural, causando uma alteração no eixo neuro-hormonal e, consequentemente, um desequilíbrio. 
Como dito anteriormente, mesmo sendo desconhecidas à população, essas moléculas estão inseridas em nosso dia a dia e sua presença está por todos os lados: no ar respirado, na água ingerida, nos cosméticos usados, nas garrafas de plástico, dentre outros. Os desreguladores endócrinos são compostos sintéticos espalhados pelo meio ambiente e afetam o funcionamento dos hormônios de seres humanos e animais, alterando ou anulando diferentes reações químicas responsáveis pelo funcionamento do organismo.
O contato do organismo humano com os desreguladores endócrinos acontece de várias maneiras, sendo alguns deles inalados, como aqueles presentes em pesticidas ou emitidos na combustão do diesel, outros são absorvidos pela pele, como exemplo, aqueles DEs que fazem parte da composição de cosméticos; e há ainda aqueles que são ingeridos junto com água ou com alimentos contaminados, tendo como conseqüências alterações no organismo que vão desde o mal desenvolvimento dos órgãos sexuais, até a incidência de doenças como câncer e diabetes.
Dispomos também dos chamados fito-hormônios que são substâncias derivadas de plantas, que embora sejam moléculas que possuem um mecanismo de ação parecido com os disruptores endócrinos, provêm de uma meia vida curta, podendo ser eliminados do organismo em poucos dias, diferentemente dos artificiais (disruptores endócrinos) que possuem uma meia vida longa no organismo, podendo persistir no sítio de ligação celular durante anos, submetendo o organismo humano a uma exposição crônica a essas substâncias hormonais.
Sendo assim, podemos dizer que nós seres humanos estamos expostos constantemente a esses desreguladores hormonais, uma vez que esses compostos sintéticos são originários de diferentes tipos de indústrias, porém, destacamos a indústria química, considerando que anualmente são lançadas novas substâncias no mercado sem o devido estudo prévio em relação aos efeitos nos organismos e no meio ambiente.
Além disso, outros produtos encontrados em casa também são fontes de substâncias desreguladoras, como exemplo, os produtos de higiene pessoal, cosméticos, aditivos alimentares, conservantes e agrotóxicos, dentre outros.
Podemos mensurar brevemente alguns compostos moleculares classificados como Disruptores Endócrinos, tais como: Ftalatos; Bisfenol A; Parabenos; Chumbo; Triclosan; Benzeno; Tolueno. 

Ao longo dos últimos 10 anos tem sido estabelecido que os disruptores endócrinos podem interagir e produzir efeitos colaterais no organismo humano, mesmo quando combinados em baixas doses.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há indícios de que a exposição a essas substâncias, ao longo do tempo, pode aumentar a chance de aparecimento de algumas doenças, como:

• Reprodutivas / origem hormonal: câncer de mama, câncer de próstata, endometriose, infertilidade, diabetes, obesidade.

• Imunes / origem autoimunes: suscetibilidade a infecções, doenças auto-imunes.

• Cardiopulmonares: asma, doenças cardíacas, hipertensão, infarto.

• Cerebrais / origem neurológicas: mal de Parkinson, mal de Alzheimer, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dificuldades de aprendizado.  

Outro fator relacionado aos DEs é a obesidade, pois acredita-se que a principal ação dos disruptores endócrinos esteja relacionada à interferência na diferenciação do adipócito e nos mecanismos de homeostase (equilíbrio) do peso. No Brasil, as maiores prevalências de obesidade são encontradas nas regiões mais industrializadas do país, portanto, onde coincidentemente ocorre uma maior exposição da população aos DEs.
Podemos dizer que na área esportiva, os disruptores endócrinos (DEs), interferem no metabolismo hormonal, prejudicando a performance física e desempenho, uma vez que alterando a bioquímica hormonal, consequentemente acarretará também em dificuldades no estímulo adequado para ganho de massa muscular (hipertrofia muscular) e lipólise (queima de gordura corporal).
Sabemos que a exposição a essas substâncias pode causar efeitos imediatos ou consequências que só serão sentidas anos mais tarde, pois as fases fetal e da infância são os períodos mais vulneráveis às alterações. Nessa época, os hormônios responsáveis pela diferenciação e desenvolvimento dos órgãos trabalham ativamente. 
Já na fase adulta, os efeitos a curto prazo cessam assim que o contato com as substâncias é interrompido, porém novas pesquisas afirmam que moléculas afetadas por mutações após o contato com os desreguladores endócrinos, podem ser transmitidas hereditariamente, o que permitiria que a doença se manifestasse nos filhos e netos de indivíduos infectados.
Como dito anteriormente, nos dias de hoje existe uma infinidade de produtos químicos sintéticos que ainda não foram avaliados pelos pesquisadores, quanto à atividade de desregulação hormonal no organismo humano, mas as pesquisas científicas avançam cada vez mais e caminham em breve para o mapeamento completo da ação de cada composto e, dessa forma, novos protocolos de segurança surgirão no intuito de preservar a saúde e qualidade de vida da população.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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