SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Crianças e o vegetarianismo

Como conduzir uma alimentação adequada?

Crianças e o vegetarianismo Crédito: BANCO DE IMAGENS
Danielle Fava - Nutricionista

Nos últimos anos – por diversas questões – o número de pessoas que deixaram de consumir alimentos de origem animal e passaram a ter uma alimentação vegana ou vegetariana, aumentou consideravelmente. 
Independente do motivo, o fato é que crianças inseridas no contexto dessas famílias, muitas vezes, também passam a adquirir o mesmo hábito alimentar. Quando bem planejada, a alimentação vegetariana traz muitos benefícios para a saúde e pode ser adotada em qualquer ciclo da vida.
Quando a dieta vegetariana é iniciada logo nos primeiros anos de vida, benefícios como menor incidência de doenças cardiovasculares, obesidade, câncer e diabetes podem se estender ao longo da vida. Já está bem estabelecido que o fato da dieta vegetariana conter alto teor de fibras, antioxidantes, baixo teor de colesterol e gorduras saturadas são os principais responsáveis por suas vantagens nesse sentido.
 As crianças vegetarianas e veganas costumam ter índice de massa corporal menores quando comparadas as demais crianças e também apresentam menos problemas odontológicos como as cáries. 
Na proporção em que a criança passa a receber a alimentação complementar, é importante que o aporte de calorias e nutrientes seja suficiente para que o seu desenvolvimento seja adequado, principalmente em relação às proteínas, cálcio, zinco, ferro, vitamina D e B12. Dessa forma, as refeições devem sempre conter fontes de proteínas vegetais como cereais (arroz, milho, trigo, aveia) e feijões (todos os tipos de feijões, ervilha, lentilha, grão de bico, soja) de acordo com a alergenicidade da criança ao tipo de grão. 
Em relação às fontes de vitamina B12, esse é um nutriente de maior cuidado quando se trata principalmente da dieta vegana, na qual não se consome nenhum tipo de alimento de origem animal. Embora algumas fontes vegetais possuam essa vitamina, sua quantidade não é suficiente ou sua forma é inativa. Dessa forma, a maneira mais viável de ingestão de vitamina B12 é através do consumo de lácteos, ovos, suplementos alimentares ou alimentos fortificados, lembrando sempre de avaliar a alergenicidade da criança.
Com relação ao aporte de vitamina D, a exposição à luz solar é a melhor forma de sua adequação. Porém, na atualidade, muitas crianças passam pouco tempo expostas ao sol diariamente e, muitas vezes, quando o fazem estão sob efeito de protetores solares. Na verdade, a deficiência de vitamina D não é algo exclusivo de vegetarianos e veganos, mas sim de toda a população.  Assim, o cuidado com essa vitamina deve ser para todas as crianças e se necessário realizar suplementação com indicação do pediatra e/ou nutricionista.
Alimentos fontes de cálcio também devem ser incluídos na alimentação e as principais fontes além do leite e derivados são algumas verduras (como brócolis, couve, quiabo), frutas secas, castanhas e sementes. Alguns tipos de bebidas vegetais não são recomendados para crianças abaixo de dois anos como, por exemplo, a bebida de arroz e as bebidas de algumas castanhas. A manutenção do aleitamento materno pelo menos até os dois anos ou mais é a recomendação do Ministério da Saúde e no caso do desmame, o ideal é verificar com o médico e/ou nutricionista qual a fórmula adequada para utilizar. No caso de crianças maiores, podem ser utilizadas bebidas vegetais, também avaliando se há alguma alergia ou não.
Em relação ao ferro, é importante se atentar a influência que alguns alimentos podem ter sobre a sua absorção. A recomendação é que as fontes de ferro na dieta vegetariana sejam consumidas juntamente com fontes de vitamina C para que sejam melhores absorvidas e em relação ao zinco, embora não seja comum sua deficiência em crianças vegetarianas, a principal questão é que como geralmente a dieta vegetariana é muito rica em proteínas de sementes, tubérculos e raízes e estas possuem ácido fítico, que é um agente quelante do zinco, isso pode prejudicar a sua absorção. Porém, o cuidado de deixar os grãos de molho, já auxilia na diminuição desse ácido.
As alergias alimentares devem ser avaliadas, principalmente no caso das substituições das fontes de leite e derivados e na introdução de alimentos como sementes e oleaginosas. Como esses alimentos são boas fontes de proteínas e gorduras saudáveis, é comum estarem presentes no repertório alimentar de veganos e vegetarianos, porém, quando se trata de crianças, sempre é importante ser cauteloso.
A dieta vegetariana ou vegana é totalmente possível para crianças e pode ser iniciada já na alimentação complementar, ela traz muitos benefícios para a criança por toda a sua vida quando bem planejada e conduzida. 
Os cuidados que precisam ser tomados são a manutenção do aporte energético e de nutrientes adequados para que não haja qualquer tipo de comprometimento em relação ao crescimento e desenvolvimento da criança
 A orientação de um nutricionista é importante para auxiliar os pais e cuidadores nesse processo, bem como o acompanhamento para assegurar que o aporte nutricional está se mantendo adequado conforme o crescimento da criança e se necessário, fazer intervenções necessárias para suplementação.

Danielle Bonfim das Chagas Fava

Nutricionista

CRN3 26112

Graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pós-graduada em Saúde da Família pela UGF e realizou curso livre de Psicanálise Clínica- Associada à Sociedade Paulista de Cardiologia (SOCESP), participante dos cursos de atualização profissional promovidos pelo Grupo de Estudos em Nutrição e Cardiologia (GNEC) e a Associação Paulista de Nutrição (APAN) e a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN).- Profissional com 8 anos de experiência em nutrição clínica e ambulatorial, desenvolvidos em hospital, consultório, ambulatório e unidade básica de saúde, com foco em nutrição clínica, materno-infantil, geriatria/gerontologia, psicologia da alimentação e educação nutricional.- Trabalha com abordagem da Nutrição Comportamental e conceitos da Alimentação Intuitiva e Consciente (Intuitive Eating e Mindful Eating)

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