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Suplementos: Ácidos linoleicos conjugados

Já ouviu falar nesse óleo? Conheça do que se trata e saiba por que investir nessa propriedade

Suplementos: Ácidos linoleicos conjugados Crédito: BANCO DE IMAGENS

O ácido linoleico conjugado, ou CLA, ganhou papel de destaque, sendo um dos protagonistas em suplementos que contribuiriam na diminuição da gordura corporal, e consequentemente, na diminuição do sobrepeso e da obesidade na população. Mas afinal de contas, o que é o famoso CLA?

Trata-se de uma sigla para a expressão em inglês (Conjugated Linoleic Acid) que se refere a um grupo de ácidos graxos. Os CLAs possuem uma característica em comum: 18 carbonos poli-insaturados (ou seja, possuem mais de uma dupla ligação em sua molécula) e são o que na química conhecemos como isômeros de um ácido graxo chamado ácido linoleico, conhecido como 18:2 (cis-9, cis- 12). O ácido linoleico é um ácido graxo da família ômega-6 e muito comum em diversos óleos vegetais.

“Em outras palavras, os ácidos graxos pertencentes ao grupo dos CLA, são ácidos graxos muito parecidos com o ácido linoleico. O que diferencia um CLA do outro é a posição das duplas ligações molécula ou o posicionamento dos hidrogênios ligados aos carbonos que participam das duplas ligações (isto é o que faz com que um ácido graxo seja chamado cis ou trans)”, explica o pesquisador do Laboratório de Metabolismo Celular do departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná (PFPR), Dr. Everson Nunes.

Ainda segundo Everson Nunes, existem ao menos 28 tipos de ácidos graxos pertencentes ao grupo dos CLA e vários deles são trans. É importante citar que suplementos fonte de CLA podem possuir ácidos graxos do grupo dos CLA na forma isolada ou como parte de um óleo extraído, planta ou outra fonte. Quando isolados, os dois CLAs mais comuns em suplementos são o 18:2 (cis-9, trans-11) e o 18:2 (trans-10, cis-12). Óleos provindos de diferentes plantas ou animais podem ter ácidos graxos pertencentes ao grupo dos CLA em sua constituição.

E o tal efeito emagrecedor? De acordo com a maioria dos estudos esta substância, muito utilizada em suplementos alimentares, parece não colaborar para a redução de gordura corporal.

“A concentração de CLA pode variar em alguns alimentos, segundo alguns estudos, no queijo a quantidade varia de 3,6 a 8,0 mg/g de lipídeo, no leite, de 3,4 a 6,4 mg/g e na carne, de 2,7 a 5,6 mg/g”, afirma o nutricionista Jean Carlos Silvestre.

Alguns estudos com suplementação diária de 3,4g de CLA têm mostrado uma diminuição em gordura corporal sem afetar a massa muscular dos indivíduos com sobrepeso. Para se ter uma ideia, em uma dieta ocidental, estima-se que o consumo de CLA pode chegar a 1,5g/dia e ainda segundo o nutricionista, ainda que alguns estudos demonstrem sua eficácia, muitos outros são controversos.

“Enquanto a documentação científica comprovando a segurança no uso e eficácia do produto não se tornar real, nossa agência nacional de vigilância sanitária (ANVISA) manterá o produto fora das prateleiras para venda legal”, complementa o profissional.

Não existem evidências de que um praticante, ou não, de atividade física seja beneficiado pelo consumo isolado de ácidos graxos ou suplementos a base de óleo quando se alimenta normalmente. “No entanto, o consumo de alimentos fonte de ácidos graxos (sementes e castanhas) ou o uso de óleos vegetais (ex: azeite de oliva extra virgem) para temperar ou no preparo de alimentos, é o indicado para que sejam aproveitados todos os nutrientes presentes em conjunto nestes alimentos”, frisa o Dr. Everson Nunes.

“Nossa esperança é que venham novos estudos para clarear essas questões que ainda faltam ser preenchidas na literatura, para que possamos ampliar o conhecimento e a utilização ou não de novos suplementos alimentares em benefício da grande luta contra a obesidade”, lembra Jean Carlos Silvestre.

“De qualquer forma não podemos nos esquecer da boa e velha combinação entre exercício físico e alimentação saudável, este casamento sim é comprovado que melhora a qualidade de vida e saúde das pessoas, bem como a diminuição de gordura corporal e o aumento de massa muscular”, enaltece o nutricionista.

 

CLA X ÓLEO DE CÁRTAMO

Primeiramente é importante lembrar o que é um óleo e o que é o CLA. “Os óleos comestíveis são geralmente extraídos de plantas ou animais e compostos principalmente por substâncias chamadas de triglicerídeos (ou triacilgliceróis). Os triglicerídeos por sua vez são constituídos por glicerol e ácidos graxos. Tanto triacilgliceróis quanto ácidos graxos são chamados popularmente de gorduras”, explica o pesquisador, Dr. Everson Nunes.

Diferentes plantas geram óleos com diferentes tipos de ácidos graxos compondo seus triglicerídeos. Em um óleo extraído de uma planta podemos ter dezenas de ácidos graxos diferentes como componentes dos triglicerídeos que lá estão.

Segundo o pesquisador, a principal diferença entre os distintos óleos comestíveis que encontramos no mercado está na composição de ácidos graxos. Contudo, cada óleo pode possuir ácidos graxos específicos em maior ou menor proporção. Por isto temos tantos óleos diferentes, cada um com indicações de uso e aplicações distintas.

O CLA é um conjugado derivado do ácido linoleico, como o próprio nome diz, uma substância presente em alimentos de origem animal, como a carne vermelha e o leite, que possui propriedades anticancerígenas. Temos no ácido linoleico, um ácido poli-insaturado presente em óleos e gorduras vegetais, como por exemplo, a soja, o milho e o girassol.

Agora imagine uma mesma fórmula molecular, porém com função diferente, é exatamente o CLA, em termos técnicos ele se enquadra em um isômero conjugado posicional e geométrico do ácido linoleico.

“Quando falamos em CLA, fica fácil lembrar de algumas substâncias semelhantes, como o óleo de cártamo. Porém vale lembrar que o óleo de cártamo, mesmo que seja um óleo poli-insaturado, rico em ácido linoleico, não possui o ácido linoleico conjugado, sendo uma substância diferente e com outras propriedades biológicas”, explica o nutricionista Jean Carlos Silvestre.

Segundo o profissional, se pensarmos em consumo de ácidos graxos como ômega 3 e 6, veremos que existe uma diferença entre ambos. O ômega 3, ou ácido linolênico, é um ácido graxo essencial, que deve ser obtido através da alimentação (linhaça, chia e outros alimentos). Já o ômega 6, ou ácido linoleico, é um outro ácido graxo essencial que também deve ser obtido da alimentação (peixes, frutos do mar, óleo de canola, sementes oleaginosas).

“Nesta categoria de ácido linoleico entra então o ácido linoleico conjugado, advindo de carnes vermelhas e leites”, complementa o nutricionista.

 

EM BUSCA DO CLA

Podem ser encontrados principalmente em leite, laticínios e carnes de gado criados a base de pasto. Isto ocorre porque bactérias que habitam o estômago de animais ruminantes produzem estes ácidos graxos enquanto o pasto ingerido está passando pelas diversas etapas de digestão desses animais.

“O óleo de cártamo é um exemplo de óleo vegetal que pode possuir CLA em sua constituição (lembrando que cártamo é uma planta Carthamus tinctorius). Contudo, a quantidade de CLA no óleo de cártamo é geralmente insignificante (0,5 a 1,0 mg por g de óleo, ou seja 0,05 a 0,1% do óleo)”, frisa o Dr. Everson Nunes. O óleo de cártamo é na verdade rico em ácido linoleico e não em CLA, pois pode possuir de 75 a 80% de sua constituição composta por este ácido graxo.

Quando se trata de suplementos de CLA, eles possuem algo próximo de 800mg por grama de óleo, ou seja, 80% de CLA por porção de 1g. Os CLA geralmente presentes são o 18:2 (cis-9, trans-11) e o 18:2 (trans-10, cis-12) em proporções similares. Atualmente também podem ser encontrados suplementos com maior proporção de apenas um tipo de CLA, mas ainda são minoria no mercado e possuem valor comercial mais elevado.

 

FONTES CONSULTADAS:

Dr. Everson Araújo Nunes: Pesquisador do Laboratório de Metabolismo Celular do departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná (PFPR)

Jean Carlos Silvestre: Nutricionista e Mestre em Ciências da Saúde (UNIFESP). CRN 3 - 38744

 

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