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A relação entre hormônio cortisol X anabolismo: aliado ou inimigo?

Conheça os métodos de controle do hormônio cortisol no organismo

A relação entre hormônio cortisol X anabolismo: aliado ou inimigo? Crédito: BANCO DE IMAGENS

Muito se ouve falar sobre as formas de se otimizar o metabolismo anabólico para ganhos de massa muscular, porém, sabemos que os mesmos estão relacionados a diversos fatores já bem conhecidos no meio fitness, como: o ajuste técnico alimentar, a suplementação, o treinamento físico e o descanso adequado, para que as reações regenerativas do organismo ocorram adequadamente. No entanto, o que muitas vezes passa despercebido, mas, tem extrema relevância para nós fisiologistas quando buscamos a maior performance anabólica de nossos pacientes, é a secreção de um hormônio, chamado cortisol.

O hormônio cortisol, também conhecido como hormônio do estresse que se apresenta em picos sanguíneos no organismo, toda vez que passamos por situações de tensão e estresse mental ou físico. Embora esse hormônio seja muitas vezes crucificado por nós profissionais, quando buscamos o máximo do desempenho anabólico de nossos pacientes, metabolicamente, o mesmo se caracteriza por ser um importante e essencial elemento no controle das reações fisiológicas inflamatórias, alérgicas e no controle da glicose sanguínea em situações de estresse.

Pois então, vamos ver brevemente como funciona os principais mecanismos de ação do hormônio cortisol em nosso organismo e algumas condutas específicas para inibir parcialmente as altas concentrações do cortisol.

AÇÃO SISTÊMICA DO CORTISOL NO ORGANISMO

O cortisol é um hormônio corticosteróide da família dos esteróides, produzido pela região cortical (córtex) da glândula supra-renal, sendo diretamente envolvido na resposta ao estresse. Sua forma sintética, chamada de hidrocortisona, é um anti-inflamatório usado principalmente no combate às alergias, a artrite reumatoide e a alguns tipos de cânceres. Podemos dizer que ele tem três ações primárias no organismo, estimulando a quebra das proteínas, das gorduras e também providenciando a metabolização da glicose no fígado.

Considerado o hormônio do estresse, o cortisol possui grande potencial de ativar respostas do corpo frente situações de emergência, estimulando a contração e explosão muscular, aumentando a pressão arterial e a glicose sanguínea e assim propiciando energia muscular. Ao mesmo tempo, todas as funções anabólicas de recuperação, renovação e criação de tecidos são paralisadas e o organismo se concentra na sua função catabólica para a obtenção de energia.

Uma vez que o estresse costuma ser de origem pontual, superada a questão estressante, os níveis hormonais e as funções fisiológicas voltam a normalidade, porém quando este se prolonga, os níveis de cortisol no organismo disparam, podendo levar a ocorrência de diversas reações bioquímicas negativas, favorecendo ao aparecimento de doenças crônico-degenerativas, como por exemplo a síndrome metabólica.

Podemos dizer que a concentração do cortisol se altera durante as diversas horas do dia, apresentando seu pico pelas primeiras horas da manhã, sendo que logo após o despertar, os níveis sanguíneos de cortisol, vão declinando progressivamente ao longo do dia, ficando bastante baixos durante a noite. Já com os atletas e praticantes de atividades físicas intensas, podemos dizer que os níveis de cortisol atingem picos na corrente sanguínea durante os exercícios e com isso acabam aumentando o metabolismo proteico e se necessário, passam a estimular a liberação de aminoácidos para serem utilizados pelo fígado no processo denominado de gliconeogênese hepática, sendo esse estímulo de aumento da secreção corticóide, feito por uma ação central chamada de ativação via eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA).

Pois então, ao abordarmos brevemente e de forma resumida os mecanismos de ação do hormônio cortisol no organismo humano, passaremos a citar algumas formas de controlarmos sua produção endógena, porém é bom deixar bem claro, que apesar de existirem vários apontamentos da fisiologia humana e fisiologia endócrina do esporte, em controlar, manter diminuída ou estável a produção de cortisol no organismo, ainda nenhum estudo científico nos mostrou algum método ou técnica que alcance 100% de sucesso nesse quesito.

 

MÉTODOS DE CONTROLE DO HORMÔNIO CORTISOL NO ORGANISMO

1) Controle dos fatores estressantes do dia a dia: embora muitos não saibam, a constante e frequente exposição do organismo ao estresse, irritação, tensão, ansiedade, acabam por gerar os maiores picos de cortisol no corpo, expondo o mesmo a todos os fatores já mencionados acima, inclusive ao estado de catabolismo muscular, portanto, embora seja algo muito complicado de se alcançar nos dias de hoje frente a tantos problemas que enfrentamos seja eles no trabalho, relacionamento, fatores familiares e sociais, controlar o estresse e a ansiedade significa poupar o organismo da ação desfavorável do cortisol, ou seja, poupar os músculos ganhos com esforço e horas investidas nas academias. Uma sugestão para isso pode ser a prática de diversas terapias complementares, tais como a psicoterapia, a meditação, o yoga e a hipnose.

2) Treinamento físico e prática esportiva: quanto mais intensa e demorada for a prática esportiva, maior será a liberação de cortisol sanguíneo durante a atividade, dessa forma podemos dizer que o exercício físico é um indutor do aumento do hormônio cortisol. Porém, estudos científicos realizados, constataram que os exercícios físicos praticados de forma frequente, contínua e crônica, em longo prazo, diminuem a produção de cortisol do indivíduo e esse fato fisiologicamente acontece devido a alguns fatores como a dessensibilização dos receptores glicocorticóides no organismo devido a prática esportiva, bem como ao aumento das concentrações de testosterona e hormônio do crescimento (GH), induzidas por exercícios de força (treinamento resistido de musculação), no período pós-treino, que acabam decaindo a produção de cortisol. É sempre bom orientarmos aos pacientes, que é muito importante prestar a atenção no tempo e volume de treino, pois, quanto mais demorado for o período de tempo submetido ao treino pesado, maior será o cortisol produzido (hipercortisolemia) e isso deve ser levado em consideração, dependendo da abordagem a ser empregada. De um modo geral, a prática de exercícios em longo prazo, se torna um importante fator para o controle e diminuição do cortisol no corpo.

3) Ajuste técnico alimentar: como sabemos, a alimentação é a chave para o controle metabólico corporal e se aplica quando queremos manter controlada a produção de cortisol. Isso ocorre, porque através da técnica de dieta individualizada acontece um estímulo para alinhamento entre a nutrição e o trabalho celular. Dessa forma, com a correta manutenção de nutrientes para as funções corporais, ocorre também uma estabilização da função hormonal principalmente de insulina e glucagon, que consequentemente contribuirá para uma baixa ação do hormônio cortisol. Lembrando que quando ficamos horas sem comer e com fome, o organismo lança mão de altas concentrações de cortisol para iniciar o processo de gliconeogenese hepática, promovendo a degradação de proteínas do músculo esquelético e também das reservas de glicogênios hepático e muscular, portanto o controle alimentar também tem ação sobre o controle do cortisol em nosso corpo.

4) Sono e descanso adequados: todo praticante de treinamento de força ou mesmo atleta de outras modalidades esportivas, sabem que é durante o sono que ocorre o anabolismo e o crescimento muscular, não é mesmo? Esse fato é uma verdade, pois as reações metabólicas basais do sono se iniciam no período em que dormimos, onde o organismo humano passa a estabelecer diversas reações bioquímicas, principalmente no que se diz respeito a secreção hormonal, onde diversos hormônios são produzidos em altas concentrações, entre eles o hormônio do crescimento (GH), as somatomedinas (IGFs), a testosterona, a insulina, TSH (hormônio estimulante da tireóide ), as interleucinas que estimulam a maior resposta do sistema imunológico (linfócitos) e com isso, acaba-se tendo um efeito inibitório na produção de cortisol, portanto horas adequadas de sono regular, atua beneficamente ao organismo dando início aos processos regenerativos e também de crescimento celular/tecidual/muscular, com baixa produção de cortisol. Nesse caso, podemos afirmar que o cortisol terá uma concentração um pouco mais alta no início da manhã, onde o mesmo será necessário para auxiliar o indivíduo no despertar do sono. Resumindo, dormir bem é fundamental.

5) Uso da L-Glutamina: alguns estudos apontaram para a eficiência na suplementação de glutamina como um provável atenuante na produção de cortisol, como também uma diminuição na ação catabólica muscular do mesmo, ou seja, a glutamina apresenta propriedades anti-catabólicas musculares, quando se encontra em abundância na musculatura esquelética. Vale dizer também, que a glutamina representa um importante combustível para as células do sistema imunológico que atuam de forma mais eficiente na presença de glutamina e dessa forma acabam mantendo os níveis de cortisol mais controlados, podendo favorecer a resposta anabólica muscular.

6) Uso do ácido ascórbico: outro procedimento documentado na literatura através de alguns estudos é o uso do ácido ascórbico na redução das taxas de cortisol. O ácido ascórbico mais conhecido como vitamina C, tem um importante papel na estimulação da resposta imunológica no organismo, pois atua diminuindo as chances do organismo contrair infecções por microrganismos, possuindo uma ação preventiva na aquisição de doenças. O ácido ascórbico, também atua diminuindo a formação de radicais livres no corpo, que são moléculas que quando se tornam excessivas, podem contribuir para o aparecimento de diversas doenças. Outro dado muito interessante e de destaque nesse artigo, é que alguns estudos demonstraram que além da L-Glutamina, o consumo diário de vitamina C, pode contribuir para eventuais quedas na produção endógena de cortisol, portanto, a vitamina C, poderá ser mais uma abordagem cabível no combate as altas taxas de cortisol sanguíneo, bem como prevenir nossos pacientes atletas da ação desfavorável dos radicais livres.

7) Evitar o uso crônico de determinados medicamentos e álcool: podemos dizer que existem inúmeros medicamentos que podem elevar as taxas de cortisol no organismo humano, dentre eles as substâncias estimulantes (termogênicos e agonistas beta adrenérgicos), os anti-inflamatórios esteróides (corticóides), os termogênicos e algumas drogas ilícitas. Portanto determinados medicamentos, se usados de forma frequente e crônica, podem estimular o aumento na produção do cortisol sérico. Outro fator que acaba contribuindo bastante para estímulo de altas taxas de cortisol no organismo, é o uso crônico e agudo do álcool, que muitas vezes, associado a noitadas e longos períodos de jejum, tornam o meio corporal mais propício para a alta produção de cortisol.

Para concluir esse artigo, gostaria de deixar claro que o hormônio cortisol é de extrema importância em nosso organismo, uma vez que atua em conjunto com outros hormônios denominados catecolaminas e que desempenha diversas reações metabólicas primordiais a vida humana, de modo que sem a sua existência, muito provavelmente não haveria sobrevivência. No entanto, quando passamos a focar no ponto das reações bioquímicas endergônicas, ou seja, no anabolismo, principalmente da musculatura esquelética, verificamos que o cortisol possui como mecanismo de ação, características catabólicas. Assim sendo, passamos a adotar medidas preventivas em nossos pacientes, visando utilizar formas e condutas de diminuir ou controlar as concentrações do hormônio cortisol, tendo como consequência resultados físicos e de desempenho favoráveis.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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