SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Introdução alimentar guiada pelo bebê

Uma prática intuitiva

Introdução alimentar guiada pelo bebê

Dra. Danielle FavaNutricionista - CRN 3 26112Graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pós-graduada em Saúde da Família pela UGF. Experiência em nutrição clínica e ambulatorial, desenvolvidos em hospital, consultório, ambulatório e unidade básica de saúde, com foco em nutrição clínica, materno-infantil, geriatria/gerontologia, psicologia da alimentação e educação nutricional. Trabalha com abordagem da Nutrição Comportamental e conceitos da Alimentação Intuitiva e Consciente (Intuitive Eating e Mindful Eating)

A introdução da alimentação complementar é um momento delicado, em que o bebê é apresentado a várias novidades, desde utensílios como prato, copo e talheres, até os diferentes alimentos. Sua forma de nutrição passa a ter novos sabores, cheiros e texturas. É uma fase de grande aprendizagem e isso demanda muita paciência, embora seja uma fase de gostosas descobertas, também pode gerar estresse para os pais, cuidadores e para a própria criança. Por isso, é fundamental que essa introdução ocorra de forma gradual, flexível e com dedicação de tempo e paciência dos pais. Muitas dúvidas surgem nesse momento e o maior medo das mamães é em relação aos engasgos: no começo, algumas reações do bebê as deixam assustadas e a interpretação da linguagem corporal e facial do bebê costuma ser errônea. É comum, nas primeiras tentativas, o bebê colocar a língua para fora e empurrar o conteúdo da colher ou talvez ele a segure e sugue tal qual faz com o peito ou com a mamadeira. Tudo isso é normal. Caretas ou o travamento da boca também são comuns na fase de introdução dos alimentos, isso não quer dizer que o bebê não gostou. Pode ser apenas um sinal de que ele está treinando o mastigar. O bebê, mesmo sem dentes, tem o reflexo da mastigação, mas ele vai sendo desenvolvido e aprimorado com o tempo. Por isso, é importante não bater a papinha no liquidificador. Bater a comida ou peneirar em excesso, para deixá-la mais liquefeita, atrapalha todo o processo, pois, o conteúdo escorrega pela garganta e também não permite o contato do alimento com as papilas gustativas. Com isso, nenhum sabor é sentido e o paladar fica prejudicado.

O DESMAME DO BEBÊ Os alimentos devem ser, preferencialmente, servidos amassados ou, sempre que possível, em pedaços, possibilitando que os bebês exercitem suas escolhas e comam sozinhos, com as mãos, até se sentirem satisfeitos. O baby led weaning (BLW), que em livre tradução seria algo como desmame conduzido pelo bebê, foi criado por Gill Rapley e traz justamente essa sugestão de que os alimentos não sejam oferecidos em forma de papa. A manipulação da comida com as mãos é um exercício para maior aceitação dos alimentos, principalmente dos vegetais. É importante criar condições para que o bebê possa comer livremente, possa fazer sujeira seja no cadeirão ou no chão, é interessante também deixar os utensílios disponíveis para a criança utilizar caso deseje. A abordagem do BLW tem como princípio que os bebês amamentados, principalmente os que estão em aleitamento materno exclusivo em livre demanda, possuam o seu próprio ritmo de alimentação, uma vez que decidam quando irão começar e parar de mamar. Além disso, o leite materno possui uma variedade de sabores, de acordo com a alimentação da mãe e, com isso, o bebê já está mais acostumado com as substâncias que exercem sobre o sentido do gosto. Um aspecto muito positivo do BLW é que, de acordo com suas diretrizes, quando um bebê rejeita um alimento é porque ele não está pronto para consumir aquele alimento. Isso deixa as mães muito mais tranquilas, pois não ficam com aquela angústia de que o filho não quer sua comida, ou que ele não gostou do que você fez e outras dúvidas que possam surgir quando prepara a comida para eles. A técnica do BLW permite que os momentos das refeições sejam mais descontraídos e ajuda a diminuir a ansiedade materna – que quer que o filho coma – e também da criança – que está sendo exposta a novidades. Para iniciar o BLW, é preciso observar, primeiramente, se o bebê já apresenta a habilidade de pegar objetos e levá-los à boca. Caso a criança já tenha essa habilidade desenvolvida, o BLW pode ser iniciado. Se ela resiste a pegar e/ou levar os alimentos à boca, provavelmente ela não está pronta e convém aos pais não forçarem, aguardando o momento em que a criança comece a dar sinais para tentarem novamente.

SABOR EM PEDAÇOS Os alimentos devem ser cortados em pedaços grandes (formas de hastes ou palitos – geralmente recomendamos que tudo seja cortado do tamanho e forma semelhante ao punho do bebê) e cozidos “al dente”, ou seja, devem ser firmes, mas não duros e devem ser macios, mas não moles demais. As carnes podem ser oferecidas em pedaços maiores para que sejam chupadas e só mais tarde, quando a criança estiver mais adaptada, poderá ser oferecida desfiada ou em preparações que se utilizem de carnes moídas (hamburguinhos, bolinhos sejam de carnes bovina, frango ou peixe). Não é preciso ofertar um tipo de alimentação diferenciada para o bebê. Ele pode consumir os mesmos alimentos que a família irá consumir naquela refeição, inclusive, pode e deve estar à mesa com os demais membros da casa. É importante para que ele já se habitue a fazer as refeições em família, pois é um estímulo natural, uma vez que a criança aprenda por observação e repetição de comportamentos. Alguns pontos importantes para salientar: ainda que essa técnica seja muito favorável para melhorar a aceitação da alimentação complementar, os pais não devem esperar que os filhos comam tudo logo das primeiras vezes e devem tentar oferecer novamente os alimentos que foram recusados em algum outro momento. Os pais e/ou cuidadores precisam sempre estar presente nos momentos da alimentação e nunca ofertar alimentos que ofereçam perigo de engasgo (como amendoim, uva inteira, tomate cereja inteiro). A técnica do BLW deve ser sempre supervisionada pelos pais e/ou cuidadores. Respeitar o bebê e permitir que ele faça tudo no seu tempo, deixar fluir o desenvolvimento infantil no ritmo natural, principalmente no que diz respeito à alimentação e nutrição, promove autonomia comportamental, fisiológica e psicossocial que irá prevenir muitos problemas alimentares no futuro, tais como recusas alimentares, que costumam acontecer por volta dos 5 ou 6 anos e até mesmo obesidade, seja na infância ou na vida adulta. Consulte o nutricionista e o pediatra antes de iniciar a alimentação complementar e o BLW.

Danielle Bonfim das Chagas Fava

Nutricionista

CRN3 26112

Graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pós-graduada em Saúde da Família pela UGF e realizou curso livre de Psicanálise Clínica- Associada à Sociedade Paulista de Cardiologia (SOCESP), participante dos cursos de atualização profissional promovidos pelo Grupo de Estudos em Nutrição e Cardiologia (GNEC) e a Associação Paulista de Nutrição (APAN) e a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN).- Profissional com 8 anos de experiência em nutrição clínica e ambulatorial, desenvolvidos em hospital, consultório, ambulatório e unidade básica de saúde, com foco em nutrição clínica, materno-infantil, geriatria/gerontologia, psicologia da alimentação e educação nutricional.- Trabalha com abordagem da Nutrição Comportamental e conceitos da Alimentação Intuitiva e Consciente (Intuitive Eating e Mindful Eating)

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