SUPERAÇÃO

Superação: Alexandre Gonzalles

Mesmo quase sem enxergar, aos poucos, fui saindo daquele isolamento que me encontrava e fui buscando nos treinos uma nova maneira de viver

Superação: Alexandre Gonzalles Em apenas uma semana em Boston, tive o diagnóstico certeiro: tinha uma doença rara, que acometia de 2% a 3% da população no mundo todo, a retinose pig
Crédito: ARQUIVO PESSOAL

Alexandre Dorelli Gonzales tem apenas 5% da visão e 100% de foco na vida. Sua superação faz dele faixa azul de Jiu Jitsu e mergulhador profissional, além de profissional em Educação Física e Nutrição

“Sempre usei óculos de grau. Tinha miopia alta desde a adolescência. No colegial, entre 16 e 17 anos, comecei a enfrentar uma dificuldade ainda maior para enxergar. Aos 18 anos, notei uma piora quando fui tirar a carteira de habilitação. Morando em Sorocaba, no interior de São Paulo, comecei a procurar vários médicos para saber o porquê de enxergar vultos, porque via tudo embaralhado e cada dia com mais dificuldade. Fiz centenas de exames e nenhum diagnóstico preciso foi dado.

Em São Paulo, encontrei um médico que sugeriu ao meu pai que fossemos para Boston, nos Estados Unidos, até um especialista em visão, para tentar descobrir qual era realmente o meu problema. Nessa altura, minha visão estava ainda mais comprometida. Enxergava pouco e não notava as barreiras na minha frente e nas laterais, fui perdendo a visão gradativamente. Depois de um ano de tratamento no Brasil, descobri que o problema era na retina. Em apenas uma semana em Boston, tive o diagnóstico certeiro: tinha uma doença rara, que acometia de 2% a 3% da população no mundo todo, a retinose pigmentar, uma degeneração das células da retina. Descobri que essa doença não tinha cura. A esperança era estacionar o estágio dela, mas voltar a enxergar seria impossível. Voltei para o Brasil e me vi depressivo por um ano. Imagina, um garoto de 18 anos, em plena saúde, não enxergar mais? Pra mim, foi como se tivesse morrido, não via mais graça nenhuma em viver, deixei o colégio, não saia de casa e não queria que ninguém me visitasse. Sempre tive o apoio da minha família e dos meus amigos, mas mesmo assim me sentia revoltado com a situação. Minha família sempre me deu um suporte muito bom desde sempre, meus amigos estiveram sempre próximos de mim, mas a revolta tomou conta da minha vida por um ano.

Comecei a me interessar pela musculação já com 14 anos. Como aos 18, já tinha uma estrutura legal, pensar em treinar foi o que realmente me tirou de casa nessa fase de revolta. Mesmo quase sem enxergar, aos poucos, fui saindo daquele isolamento que me encontrava e fui buscando nos treinos uma nova maneira de viver. Percebendo que eu já me interessava em sair de casa, meu pai me chamou para uma conversa e disse que eu não poderia mais ficar parado como estava, como sempre gostei de carros, comecei a trabalhar com ele em uma loja de venda de carros, que acabou não dando certo. Meu pai pensava em alguma coisa para eu fazer, mas foi na academia que eu encontrei uma ideia bacana. Com o problema de visão, treinar sozinho era impossível. Então eu contava com o acompanhamento do personal trainer Fabio Gianola, na época ele me disse que muitos frequentadores da academia saiam de Sorocaba em busca de suplementos alimentares em cidades maiores, como São Paulo.

Ele sugeriu que eu abrisse uma loja especializada em Sorocaba, para satisfazer essa demanda de mercado e foi isso que fiz. Abri a loja em 1998 e ela foi um sucesso por longos anos e hoje ela se transformou em um e-commerce.

Minha vida foi melhorando aos poucos. Ano após ano eu tinha um novo motivo para seguir em frente. Aos 23 anos, comecei a namorar e aos 25 me casei. Estava muito feliz, mas buscava me sentir ainda melhor. Nessa fase, pensei na possibilidade de voltar a estudar, mas ao mesmo tempo, tinha medo de não ser aceito pelas pessoas. Não queria que todos olhassem pra mim com sentimento de dó, buscava superação.Criei coragem, busquei um supletivo e depois de quase dez anos sem estudar, conclui o segundo e o terceiro ano do Ensino Médio. Para estudar, contava com o auxílio de outras pessoas, gravava as aulas em áudio e depois estudava ouvindo cada conteúdo, mas buscava ainda mais. Prestei vestibular para o curso de Educação Física, passei e entrei na faculdade.

Tudo sempre foi adaptado também na faculdade, gravava as aulas, prestava muita atenção no que era passado pelos professores, ouvia as gravações depois e tinha muita ajuda na hora de estudar. As provas eram orais e tinham ajuda de monitores.

Minha sede por estudar não tinha fim e antes mesmo de concluir a Educação Física, decidi prestar um novo vestibular, dessa vez para Nutrição e acabei emendando um curso no outro. No curso de Nutrição eram 30 mulheres para dois homens: eu e um amigo meu, o Ricardo. Decidimos estudar juntos, tanto na sala de aula como em casa, ele foi fundamental para o meu crescimento. Meu sonho sempre foi fazer Nutrição Esportiva na USP, considerado o melhor curso do país. Conversando com o Ricardo, decidimos enfrentar este desafio e durante um ano e meio, todos os sábados, íamos para São Paulo para estudar.Muitos alunos da sala tinham péssimos resultados e eu e Ricardo éramos os primeiros alunos, sempre com bons desempenhos. O fato de me aceitarem na USP foi outra superação.

Fiz diversas entrevistas para provar minha capacidade. A instituição se adaptou e eu consegui concluir mais um desafio em minha vida educacional. Pela perda de visão, melhorei e muito a minha memória.Logo depois de formado, comecei a atender. De início, fiquei preocupado com a rejeição pelo meu problema de visão. No começo tinha um paciente aqui e ali. Começou a surgir um boca a boca e a procura aumentava a cada dia. Cheguei a ter lista de espera de pacientes. Para a consulta, conto com o auxílio de uma assistente formada em técnica em Nutrição, que também cursa o curso regular em Nutrição. Eu converso com o paciente e ela preenche as fichas de avaliação, fazemos a bioimpedância e baseado nestes dados, monto o treino e a dieta do paciente.

Uno os dois cursos das faculdades que fiz e monto uma avaliação completa para o meu paciente, não me sinto diferente dos outros profissionais pelo fato de não enxergar o suficiente para clinicar sozinho; pelo contrário, com as minhas especializações, hoje, posso bater no peito e dizer que estou preparado para exercer duas profissões das quais me orgulho muito”.

UMA VIDA PARA SER VIVIDA

Alexandre Dorelli Gonzales tinha muitos motivos para desanimar e entregar de vez as fichas do ‘jogo da vida’, mas ele deu a volta por cima e hoje é um exemplo de superação. Aos 40 anos, Alê treina há mais de 25 anos e tem tanto na musculação, como no Jiu Jitsu, motivos de muita alegria. Após perder a visão quase por completo, ele precisava retomar as alegrias que antes encontrava na vida. Aos poucos, voltou para a rotina de treino, virou empresário no ramo de suplementos alimentares (hoje com o e-commerce Alegym), conquistou a faixa azul no Jiu Jitsu, fez curso profissional de mergulho e ainda se formou em duas faculdades, além de conquistar uma pós-graduação pela USP. “Só tenho motivos para ser feliz, afinal superei qualquer adversidade da minha vida e hoje me considero um profissional tão gabaritado como outro do mercado”, conta Alê. Para se aperfeiçoar ainda mais, nesses anos todos de estudo, ele buscou sempre a orientação de grandes nomes desse universo, como de Rodolfo Peres, Paulo Muzy, Fernando Marques e Júlio Balestrin, grandes feras do fisiculturismo, em suas diferentes áreas. Seu nome é forte dentro do bodybuilding e hoje ele acaba de assinar com a empresa Black Skull, como patrocinadora máster de suplementos alimentares. Ele conta ainda com os patrocínios da Keeppack (bolsas térmicas) e a Shatark (roupas para academia). Bem assessorado, Alexandre foca toda a confiança de seus patrocinadores, nos treinos feitos todas as manhãs, de segunda a sábado. Na academia, ele conta com a supervisão do personal trainer Héverson Gomes. “Estamos juntos há quase três anos. Ele é um aluno bem aplicado e às vezes nem me lembro que ele possui uma deficiência visual”, conta o personal. O treinador afirma que Alexandre tem nos dorsais, maior facilidade de desenvolvimento. Na academia, além da musculação, ele foca alguns minutos para o aeróbio no transport. A alimentação também é dosada com total critério. Alexandre é adepto de pasta de amendoim, da crepioca e dos produtos integrais ao longo do dia, não dispensa salada no almoço, carne vermelha magra e por vezes o frango grelhado. A batata doce também se encaixa no cardápio do atleta. Na lista de suplementos alimentares, consome whey protein isolado, picolinato de cromo, BCAA, glutamina, caseína, termogênico, além de Ômega 3 e complexo vitamínico. Atualmente, Alexandre realiza acompanhamento clínico com esportistas e atletas de diversas modalidades que buscam apoio nutricional, além de orientações sobre Educação Física. Também atende adolescentes, obesos, gestantes, idosos, todos aqueles que buscam melhora na qualidade de vida por meio da nutrição e das atividades físicas. “Meu sonho é um dia poder voltar a enxergar. Se isso acontecer, pretendo ser personal trainer”, revela. Alê deixa um recado: “Comece sempre um ano planejando suas metas, se você quer verdadeiros resultados, trace estratégias de treinamento dieta e suplementação mais adequada ao seu objetivo”. Esse é o Alê, um exemplo ímpar de superação!

SELO 1 SIGA o Alexandre Dorelli Gonzales Facebook: facebook.com/NutricionistaAlexandreGonzalesInstagram: @alegonzales_nutriesportivouspe-commerce: www.alegym.com.br

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