SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Alergia alimentar na infância

Comum entre as crianças, a alergia alimentar ainda está presente em nosso dia a dia

Alergia alimentar na infância

Juliana Cristina da SilvaNutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Personal Diet e Atendimento Nutricional CRN-3 31330

Alergia alimentar (AA) é uma reação de hipersensibilidade iniciada pela defesa imunológica do nosso corpo mediada através dos anticorpos. Essa reação é a reposta dada a fração proteica de alimento ou aditivo alimentar que a criança tenha sido exposta, porém é muito confundida com intolerância alimentar. A resposta alérgica é exacerbada e envolve mecanismos imunológicos como resposta, já a intolerância alimentar é uma resposta adversa e não imunológica as propriedades do alimento e depende muito do estado de saúde de quem o consome, bem como da dose ingerida.

Nos últimos anos houve um aumento significativo no diagnóstico da alergia alimentar, em torno de 18% na primeira infância. A alergia afeta de 6 a 8% das crianças e jovens e tem menor incidência nos adultos. Crianças que possuem AA têm de 2 a 4 vezes mais chance de apresentar outras condições como asma e outras alergias, do que as que não possuem.

O aparecimento se dá muitas vezes pela alta exposição a um determinado alimento e a uma barreira intestinal imatura e é mais susceptível a passagem dessas proteínas não digeridas. Além disso, temos também uma menor produção de imunoglobulinas que são as responsáveis pela proteção contra esses agentes, uma tolerância oral e as defesas inatas e adquiridas insuficientes. Uma falha em um ou mais desses mecanismos é o suficiente para o desenvolvimento da AA em crianças pré-dispostas.

O contato dessa fração do alimento com o sistema imune promoverá a liberação de mediadores como a histamina, que serão os responsáveis pelas manifestações observadas durante uma crise alérgica que ocorre na sequência ao consumo do alimento e podem ser: erupções cutâneas, rubor e edema; já nos casos mais graves temos: urticária e dificuldades respiratórias, podendo chegar a anafilaxia (fechamento total da glote impedindo a respiração).

Os alérgenos alimentares são na sua maioria glicoproteínas, termoestáveis, de cadeia longa e resistentes a ação de ácidos e enzimas secretadas durante a digestão, sendo classificada em tipo I e II. As do tipo I são as proteínas ingeridas, já as do tipo II são as inaladas, como no caso do pólen.

Os alimentos mais comuns para o desenvolvimento das alergias alimentares do tipo I são: leite de vaca (caseína e proteínas do soro), ovo de galinha (clara e gema), peixes e crustáceos, leguminosas e soja, trigo, amendoim e oleaginosas. Dentre outros podemos citar também os aditivos alimentares como possíveis causadores de alergias alimentares, mesmo que em uma fração muito menor.

O desenvolvimento da AA decorre de alguns fatores, sendo eles: genéticos, ambientais e alimentares. Sendo o primeiro fator imutável até o momento, os demais podemos intervir para que ocorra o bloqueio no desenvolvimento. Esses pontos são: desmame precoce, alimentação durante a gestação, idade da introdução dos novos alimentos, exposição ao meio ambiente e tipo de parto.

O diagnóstico é feito a partir do histórico clínico, reações, sintomas, bem como por observação dos alimentos ingeridos, tempo de ingestão até o aparecimento dos sintomas e esses precisam ser bem detalhados. A partir disso, são solicitados exames complementares, como: testes cutâneos ou de dosagem de anticorpos específicos através de exames laboratoriais. Em conjunto, é feito uma dieta de exclusão dos possíveis causadores de 7 a 14 dias, mantendo um registro do que se ingere e os sintomas apresentados. Esses pontos são importantes para que o alimento causador seja identificado e excluído sem causar grandes transtornos para a criança.

Como as AAs decorrem de fatores genéticos em conjunto com os ambientais e alimentares, algumas estratégias alimentares junto com o nutricionista são de grande importância. Essas intervenções podem ser realizadas em todos os períodos da vida para que a AA e os sintomas sejam evitados.

Uma dessas estratégias que se tem estudado é a restrição alimentar durante a gestação, porém não tem sido comprovada como benéfica no que diz respeito a prevenção. Já a suplementação das gestantes e lactantes com ômega 3, óleo de peixe, tem demonstrado um efeito protetor para o não desenvolvimento das AAs. A lactação também é outro fator importante como proteção, já que o leite materno é um alimento completo no quesito imunológico e deve ser até os seis meses de idade da criança.

INTRODUÇÃO COM RESPONSABILIDADE

Outro fator de importância é a atenção que deve ser dada na introdução dos alimentos sólidos, já que é nesse momento que muitos alimentos alergênicos são apresentados a criança, como leite de vaca, soja, ovo, oleaginosas e alimentos que contenham esses como ingredientes. Se essa introdução ocorrer antes da maturidade da mucosa gastrointestinal, pode ocorrer a produção exacerbada de fatores imunológicos em crianças pré-dispostas geneticamente, acarretando o desenvolvimento das AAs.

Além dessa estratégia temos que lembrar que a microbiota intestinal, bem como a integridade da mucosa intestinal são dois outros fatores determinantes para evitar o desenvolvimento das AAs, principalmente, quando a introdução dos alimentos é feita de forma precoce ou de forma errada. Exemplo disso é a utilização de probióticos que já tem demonstrado a eficácia em aumentar a imunidade, principalmente em crianças pré-dispostas.

Dessa forma, podemos silenciar ou minimizar as alergias alimentares nas crianças, isso através da prevenção, introdução a novos alimentos na idade adequada, bem como o uso de suplementação, ômega 3 e probióticos, com a finalidade de aumentar as defesas imunológicas e microbiota intestinal.

Contudo quando a criança já tem a AA o ponto principal é o conhecimento do alimento que a desencadeia, bem como a exclusão do mesmo e de seus subprodutos. Para isso a leitura dos rótulos dos alimentos industrializados e a identificação dos componentes se faz necessária, além da comunicação para todos do convívio. Portanto, o acompanhamento, com a finalidade de garantir a substituição dos alimentos alergênicos por outros que forneçam os nutrientes equivalente, se faz necessário e é de grande importância para assegurar o crescimento e desenvolvimento em todas as fases.

Comentários