PALAVRA DO ESPECIALISTA

Palavra do especialista: Quando o sistema muscular envelhece

O envelhecimento tem caráter multifuncional representado por diminuição na secreção do hormônio do crescimento (GH), fatores nutricionais, hormonais e endócrinos

Palavra do especialista: Quando o sistema muscular envelhece Entre a terceira e quarta décadas de vida, tanto a força quanto a massa permanecem estáveis, por volta dos 60 anos observa-se uma redução entre 30 e 4
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Com a chegada da quarta década da vida iniciam-se importantes alterações fisiológicas que afetam significativamente o equilíbrio funcional de vários órgãos que compõem o organismo. Neste aspecto, estudiosos têm dedicado esforços no sentido de compreender as reais causas e implicações que ocorrem na fase de envelhecimento, mas sem dúvidas se deve a um conjunto de fatores associados e ligados à menor eficiência, tanto na manutenção das condições orgânicas, quanto das propriedades funcionais.

Quando nos referimos ao tecido muscular esquelético devemos considerar que ele é constituído de um sistema proteico com atividade contrátil, associado a elementos anexos que são os tendões, fáscias, vasos sanguíneos, além das fibras nervosas que controlam a atividade motora, sendo que, o sistema neuromuscular no homem alcança sua maturação plena entre 20 e 30 anos.

Quanto ao sistema proteico, já está bem descrito que as fibras musculares são compostas basicamente de dois conjuntos de filamentos contráteis denominados de Actina e Miosina, que interagem na presença de cálcio, promovendo a contração, enquanto os elementos anexos formam um sistema de alavancas. Ainda no aspecto fisiológico, sabe-se que o tecido muscular é constituído de 75% de água, 20% de proteínas, 5% de minerais, glicogênio, lipídeos e de compostos nitrogenados não proteicos tais como a creatina, ATP e ADP, estes últimos responsáveis pelo fornecimento da energia necessária para que o movimento aconteça.

A principal função do músculo esquelético é a contração e para manter esta função, necessita de um constante suprimento de substratos energéticos, que fornecem o aporte energético ideal. Atribui-se ao tecido muscular a responsabilidade pela movimentação do corpo através de uma ação integrada com os ossos e articulações, sendo de importância ímpar para assumirmos diferentes posições durante nossas vidas, tais como permanecer em pé, sentar-se, agachar-se ou deitar-se, estabilizando nosso corpo. Outra função importante, que também está vinculada ao tecido muscular se refere as microcontrações involuntárias, realizadas pelas fibras contribuindo significativamente para a produção de calor e participando dos ajustes térmicos.

QUANDO A IDADE CHEGA

No meio científico é consenso que concomitante ao aumento da idade inicia-se o processo de redução da massa muscular, fato que na maioria das vezes leva a incapacidade e dependência funcional, ocorrendo mesmo em indivíduos saudáveis. Este processo de perda é denominado de sarcopenia sendo uma condição que vem acompanhada de maior risco para quedas e fraturas, incapacidade de realização de uma série de movimentos, bem como comprometimento na independência da vida diária.

A população de idosos tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, sendo estimado que até 2020, crescerá 16 vezes o número de pessoas acima de 60 anos de idade no país. Conhecidamente em indivíduos jovens e adultos de idade mediana, o músculo esquelético possui importante potencial regenerativo caso seja lesionado. Essa plasticidade na recuperação se deve à atividade de células especializadas no reparo que são denominadas de células satélites. Estas podem ser ativadas em resposta a vários estímulos e promovem além do reparo a geração de novas fibras.

Importante ressaltar que este potencial regenerativo das fibras musculares depende da idade do indivíduo, ou seja, as alterações que ocorrem nos tecidos em decorrência do envelhecimento, levam ao declínio da habilidade das células satélites em reparar o tecido lesado. Associado a isto, tem sido descrita a diminuição na quantidade de células satélites em decorrência do envelhecimento, gerando um ambiente desfavorável que prejudica a regeneração muscular em caso de lesão.

Este prejuízo da função muscular afeta sensivelmente a qualidade de vida do idoso, dificultando ou impossibilitando a execução de atividades da vida diária e, além disto, pode estar acompanhada de problemas psicológicos/emocionais, comprometendo a qualidade de vida do idoso. Com o passar dos anos, o desgaste do sistema músculo-esquelético é um processo natural. Estudos com o tecido muscular na fase de envelhecimento demonstraram que a redução da massa é acompanhada de infiltração de tecido adiposo piorando as funções contráteis, condição que se inicia por volta dos 50 anos e se potencializa com maior intensidade aos 60 anos, atingindo seu ponto crítico no aspecto funcional a partir dos 75 anos quando há grande atrofia das fibras musculares.

Não se descarta o fato que esta sarcopenia tenha fortes relações com um estilo de vida sedentário, visto que, a falta de exercícios físicos leva a fragilidade do sistema músculo-esquelético comprometendo a força, os movimentos e o equilíbrio. Sabendo-se que a força muscular é essencial para o desempenho de habilidades motoras, com o avanço da idade, a massa e a função muscular diminuem à medida que o número e o tamanho das fibras musculares são reduzidos.

EXERCITE-SE JÁ!

Entre a terceira e quarta décadas de vida, tanto a força quanto a massa permanecem estáveis, por volta dos 60 anos observa-se uma redução entre 30 e 40%, e a partir daí, perde-se 10% por década. Entende-se que a redução na força muscular ocorre concomitante a perda no tecido muscular. Uma das opções que tem se mostrado viável e potencial em minimizar os eventos que acompanham o envelhecimento é a prática de atividade física, principalmente exercícios de força que se opõe a perda estimulando o aumento da massa muscular e facilitando a qualidade da contração e, como reflexo evitando as quedas, melhorando os movimentos e reduzindo as dores.

Devemos lembrar que o envelhecimento tem caráter multifuncional representado por diminuição na secreção do hormônio do crescimento (GH), fatores nutricionais, hormonais e endócrinos contribuindo para a perda da massa e força muscular, que acontece com a idade desenvolvendo as funções mecânicas com maior lentidão. Programas de treinamento de força aplicados a idosos tem demonstrado aumento na massa muscular e melhora na força, redução na perda de fibras, melhora na capacidade de gerar energia e aumento no fluxo sanguíneo durante a atividade contrátil.

Diversos programas de treinamento sugerem que não somente exercícios de força auxiliam na melhora funcional da musculatura de idosos, mas também a prática de caminhada, natação, danças, pilates, etc, desde que seja respeitada a recomendação de frequência mínima de três a quatro vezes por semana, sob supervisão de um profissional especialista que irá adequar o treino a condição orgânica.

Por fim, profissionais da saúde devem criar estratégias que minimizem o efeito deletério da musculatura esquelética que acompanha o processo de envelhecimento para que se possa manter uma boa qualidade de vida, o bem estar mental e o convívio social. O sucesso do envelhecimento saudável está no tripé: alimentação, atividade física e suplementação.

 

Dr. Carlos Alberto SilvaDoutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba

 

Prof. Dr. Carlos Alberto Silva

Especialista

Doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba.

Comentários